Roteiro de 'Meus lábios se mexem', de Jorge Furtado, terá leitura dramática on-line nesta quarta
A Diretoria de Ação Cultural da UFMG (DAC) exibe nesta quarta-feira, 1º de abril de 2020, uma leitura dramática de Meus lábios se mexem, primeiro roteiro de teatro adulto escrito por Jorge Furtado. O vídeo será disponibilizado no Youtube, às 19h. Logo em seguida, às 20h, está programado um bate-papo ao vivo com os atores da peça pelo serviço de conferência ZOOM.
A peça foi escrita por Furtado com base em uma história contada a ele pela atriz Fernanda Montenegro, quando a dirigia na série Doce de mãe. Meus lábios se mexem remonta à interdição da peça A volta ao lar, que seria encenada em São Paulo por Fernanda Montenegro durante a ditadura militar. Em 1967, Volta ao lar, do britânico Harold Pinter, foi traduzida por Millôr Fernandes e produzida e dirigida por Fernando Torres (1927-2008), marido de Fernanda, com grande sucesso no Rio.
No ano seguinte, antes de levar o espetáculo para São Paulo, Torres e o ator e diretor Ziembinski (1908-1978) foram chamados para uma reunião com Solange Hernandes, funcionária do Departamento de Censura da Polícia Federal. Solange propunha 65 cortes para que o texto fosse liberado. Não houve acordo, e a peça foi proibida. A trama não tratava da situação política brasileira – o problema foram os palavrões.
Foi somente em 2014, quando a atriz resolveu contar os detalhes do episódio para o colega Jorge Furtado, que o diretor gaúcho decidiu escrever o roteiro. A versão on-line será interpretada pelo Balbúrdia Atores Associados, grupo formado por Cida Falabella, Ângela Mourão, Antônio Grassi, Eduardo Moreira e Bernardo Mata Machado, além do diretor Adyr Assumpção.
Relação coletiva em tempos de confinamento
“Somos todos atores na faixa dos 60 anos, que vivemos aquele período, e enfrentamos essa maratona de sanções que a ditadura nos impunha. É diferente da censura moderna, que se materializa por meio do corte de verbas para a cultura, de ataques virtuais e da mobilização fundamentalista, que interdita obras de arte e livros", pontua Adyr. Ele acredita que a exibição e o bate-papo comprovam que é possível manter uma relação coletiva social mesmo em um período de confinamento necessário.
A leitura dramática estava programada para ocorrer presencialmente no auditório da Reitoria da UFMG, mas em razão do avanço da pandemia do novo coronavírus, ela teve que ser cancelada. “Apesar do imprevisto, decidimos seguir com esse projeto tão importante que reflete sobre a censura e os atentados à liberdade de expressão. E isso acontece um dia após lembrarmos a data de 31 de março, aniversário do golpe militar de 1964”, explica o diretor de Ação Cultural da UFMG, Fernando Mencarelli.