29 de janeiro: Dia Nacional da Visibilidade de Travestis e Transexuais
Em entrevista, programa Conexões aborda importância das discussões sobre demandas, vivências e desafios relacionados à população travesti e transexual no país
No dia 29 de janeiro, é comemorado o Dia Nacional da Visibilidade de Travestis e Transexuais. A data homenageia o dia 29 de janeiro de 2004, quando ativistas trans e travestis lançaram a campanha Travesti e Respeito no Congresso Nacional, em parceria com o Programa Nacional de DST/Aids. Na época, a campanha esteve centrada em reforçar atitudes de respeito e inclusão a pessoas trans e travestis e foi direcionada a escolas, serviços de saúde e a clientes de travestis que atuam como profissionais do sexo. Dezoito anos depois, apesar de muitos avanços, ainda há um longo caminho a ser percorrido.
Segundo um relatório publicado pela ONG Transgender Europe no ano passado, o Brasil é o país que mais mata pessoas trans e travestis pelo 13º ano consecutivo. Só no primeiro semestre de 2021, foram registradas 80 mortes, a maioria de mulheres trans ou pessoas transfemininas. A expectativa de vida de pessoas trans e travestis no Brasil é de apenas 35 anos, equivalente aos números da Idade Média. Além disso, pelo menos 10 estados, incluindo Minas Gerais, têm sistemas que não detalham estatísticas sobre crimes contra pessoas trans e travestis, dificultando o mapeamento desses casos em nível nacional.
Em homenagem ao Dia Nacional da Visibilidade de Travestis e Transexuais, o programa Conexões desta sexta-feira, 28, recebeu o jornalista Arthur Bugre, homem trans, negro retinto e com dislexia. Ele atua como palestrante e mentor de diversidade e inclusão, e, além de jornalista, formado na PUC Minas, é também graduado em história pela UFMG e pós-graduando em Diversidade e Inclusão nas Organizações do Instituto Ânima e da Diversifica S.A. O convidado falou sobre a importância da data e do que ela representa para as discussões sobre o assunto.
“O mês de janeiro, da visibilidade trans e travesti, tem a possibilidade de ampliar os debates em relação às nossas demandas, os nossos desafios e jogar luz também em cima das nossas vivências. Muitas pessoas têm algum tipo de contato com pessoas trans, travestis, mas não entendem pra valer como é a vivência dessas pessoas aqui no país. Então é uma possibilidade de levar essa discussão para mais casas, para mais pessoas”, refletiu o jornalista.
Bugre também comentou sobre experiências únicas às pessoas trans e negras no Brasil, citando acontecimentos de sua própria vivência, e explicou o que seria o chamado “olhar zoológico”, um olhar fixo e indiscreto, que reduz a humanidade das pessoas trans e travestis e explicita a falta de compreensão das pessoas para com a presença de corpos negros e trans em ambientes públicos. O entrevistado também afirmou acreditar que as pessoas parecem estar mais abertas a discutir e tentar entender denúncias de violência e discriminação contra pessoas trans.
Para o jornalista, as “ilhas de acolhimento” são peças importantes nesse processo. “São pessoas, grupos e instituições que se comprometem em promover a diversidade e inclusão, o respeito e o acolhimento de forma prática, sobretudo para grupos minoritários, incluindo as pessoas trans”, explicou Bugre, que também defendeu a necessidade de se atentar para a saúde mental e autoestima da população trans e travesti no país e de respeitar seus pronomes.
Ouça a entrevista completa no Soundcloud.
O jornalista Arthur Bugre pode ser acompanhado por meio de seu perfil no Instagram. Também é possível acompanhar a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) pelo site da rede. A Antra articula 127 instituições que desenvolvem ações para promoção da cidadania da população de travestis e transexuais em todo o Brasil.
Produção: Carlos Ortega, sob orientação de Luiza Glória
Publicação: Enaile Almeida, sob orientação de Hugo Rafael