75 anos de Octavia E. Butler, a “grande dama da ficção científica”
Autora viveu o auge da segregação racial nos EUA e é considerada a mãe do afrofuturismo
“Comecei a escrever sobre poder porque era algo que eu tinha muito pouco”. Esta frase abre o romance Kindred – laços de sangue, de Octavia Estelle Butler, autora que completaria 75 anos no dia 22 de junho deste ano. Conhecida como “a grande dama da ficção científica”, Butler foi a primeira mulher negra a ganhar notoriedade no gênero, que até hoje é predominantemente masculino e branco. É considerada por muitos a mãe do afrofuturismo, um movimento de cunho cultural, estético e político que usa a ficção científica e a fantasia para criar narrativas com protagonismo negro.
Filha de uma empregada e um engraxate, presenciou os pais sofrerem manifestações diárias de racismo, além de ter vivenciado o auge da segregação racial nos Estados Unidos. Alfabetizada, Butler coletava livros e revistas do lixo e assim descobriu o mundo da escrita. Começou escrever aos 12 anos, depois de assistir "A garota diabólica de Marte", filme independente de David MacDonald. Foi vencedora de prêmios de expressão para a ficção científica, como o Prêmio Hugo de Melhor Conto, em 1984, o de Melhor Novelista, em 1985, e o Prêmio Nêbula, em 1985 e 2000. Kindred, quarto livro da escritora, foi o primeiro a ganhar versão brasileira, em 2017. A obra conta a história de uma mulher que desmaia e acorda no período da escravidão no sul dos Estados Unidos. Butler é ainda conhecida por várias outras publicações, como A Parábola do Semeador e Despertar. Os textos da estadunidense trazem reflexões sobre relações sociais, tecnologia, raça, desigualdade e esperança. Octávia Butler publicou quinze romances, além de contos e ensaios. No Brasil, os livros da escritora vêm sendo publicados pela editora Morro Branco.
Para celebrar a memória da autora e entender a contribuição que ela deixou para a ficção científica, o programa Universo Literário conversou com o escritor Waldson Souza, mestre em literatura pela Universidade de Brasília, estudioso da obra de Octávia Butler e da herança afrofuturista na literatura brasileira contemporânea. Na entrevista, o pesquisador analisou o pioneirismo de Butler na ficção científica, as características de sua escrita e abordagem do racismo em suas obras.
Waldson Souza, além de estudioso do trabalho de Butler é escritor e tem duas obras publicadas, Oceanic e o O homem que não transbordava. É possível acompanhar seu trabalho no Instagram @waldson_.