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Em tempos de pandemia, educação a distância expõe abismo entre ricos e pobres

'Outra estação', da Rádio UFMG Educativa, analisa os impactos da crise do coronavírus no ensino básico brasileiro

Em todo o mundo, escolas fechadas afetam mais de 1,5 bilhão de estudantes, segundo a Unesco
Em todo o mundo, escolas fechadas afetam mais de 1,5 bilhão de estudantes, segundo a Unesco Foto: Pixabay

Ao menos 192 países já fecharam escolas, como medida para conter o avanço da pandemia provocada pelo novo coronavírus. Mais de 1,5 bilhão de estudantes foram afetados, segundo monitoramento realizado, em tempo real, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). 

O ensino a distância tornou-se um principais recursos para garantir a continuidade das atividades escolares, ainda que de forma experimental. Mas o uso dessa ferramenta expõe o abismo entre estudantes das classes sociais mais privilegiadas e os mais vulneráveis. É o que revela o novo episódio do programa Outra estação, da Rádio UFMG Educativa, que também repercutiu entre especialistas, professores e estudantes a confirmação das datas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2020, nesse contexto.

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela aplicação das provas, o Enem digital, que será aplicado a 100 mil candidatos, pela primeira vez, ocorrerá nos dias 11 e 18 de outubro. A versão convencional do exame, impressa, está prevista para os dias 1º e 8 de novembro. 


Educação e emergência em saúde pública
Em situações emergenciais, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação brasileira permite a realização de atividades a distância nos níveis de ensino fundamental e médio, na educação profissional técnica de nível médio, na educação especial e de jovens e adultos e no ensino superior. Essas atividades podem ser aproveitadas para o cumprimento do ano letivo.

No primeiro bloco do programa, a professora Mariah Brochado, da Faculdade de Direito da UFMG, analisa o alcance da Medida Provisória 934/2020, publicada no dia 1º de abril, que dispensa escolas da educação básica e instituições de ensino superior de cumprirem o mínimo de 200 dias letivos estabelecido pela LDB. A carga horária de 800 horas fica mantida. A decisão tem caráter excepcional, em razão da situação de emergência de saúde pública provocada pela pandemia do novo coronavírus. 

Também entrevistada, a secretária de Educação de Belo Horizonte, Ângela Dalben, revelou que a possibilidade de dispensar o cumprimento dos 200 dias letivos na rede municipal de ensino está sob avaliação. Segundo ela, durante o período de distanciamento social, não haverá aulas on-line. Uma das preocupações é o acesso à internet e aos dispositivos tecnológicos necessários para usar as plataformas de ensino a distância.

Nas escolas estaduais – que formam a segunda maior rede pública de educação do Brasil, com 1,8 milhão de estudantes –, o retorno das atividades, de forma remota, estava previsto para 4 de maio, conforme anunciado pela Secretaria de Estado da Educação. No entanto, uma liminar do Tribunal de Justiça de Minas Gerais suspendeu temporariamente a retomada do trabalho dos servidores da educação, a pedido do Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação (Sind-UTE).

Foram ouvidos, ainda, a professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG Claudia Ribeiro de Andrade, integrante do Grupo de Pneumologia Pediátrica no Hospital das Clínicas, o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e coordenador da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação, Daniel Cara, e o professor do Programa de Pós-graduação em Ciência, Tecnologia e Educação do Cefet do Rio de Janeiro Álvaro Chrispino.

Ensino pela televisão? 
Além da repercussão sobre a confirmação das datas do Enem 2020, o segundo bloco do Outra estação aborda o Decreto 10.312, publicado pela Presidência da República no dia 4 de abril, que permite a emissoras de televisão comerciais e educativas, com tecnologia digital, utilizar o recurso de multiprogramação (um mesmo canal pode transmitir programações simultâneas em até quatro faixas) para oferecer conteúdos de educação, ciência, tecnologia, inovação, cidadania e saúde.  

Para a professora da Faculdade de Letras da UFMG Carla Viana Coscarelli, pesquisadora do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Linguagem e Tecnologia (LingTec), a medida  tem caráter paliativo. Ela lembra que, recentemente, o governo federal cancelou o contrato da TV Escola, que era administrada, desde 1995, pela Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto.  

Para saber mais sobre o tema
Confira entrevista com a professora adjunta, ex-reitora e atual diretora regional do campus IV da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), Arisa Araujo da Luz, sobre a educação em meio à crise da Covid-19.

Ouça a entrevista com a professora Arisa


Ministério da Educação (MEC)
Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais
Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte
Site do Ministério da Saúde
Site da UFMG com informações sobre o coronavírus
Conselho Nacional de Educação esclarece principais dúvidas sobre o ensino no país durante pandemia do coronavírus
Pesquisa sobre estratégias de ensino remoto de secretarias de educação durante a crise da Covid-19 - Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb)
Monitoramento da suspensão das aulas nas redes estaduais de educação -Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed)

O coronavírus também foi tema de outros episódios do Outra estação. O 35 abordou os impactos do vírus para a saúde e para o bolso das populações mais vulneráveis, como moradores de ruas e de favelas. O 34 tratou dos desafios do Sistema Único de Saúde (SUS) diante da pandemia. O episódio 33 mostrou como a China conseguiu conter o vírus. O episódio 31, por sua vez, abordou as lições aprendidas com outras epidemias na história.

Produção
O episódio 36 do programa Outra estação tem edição e apresentação de Alessandra Ribeiro, produção de Alessandra Ribeiro, Beatriz Kalil e Arthur Bugre. A coordenação de jornalismo é de Paula Alkmim, e os trabalhos técnicos, de Breno Rodrigues.

O programa Outra estação vai ao ar às quintas-feiras, às 18h, com reprise às sextas, às 7h30. O conteúdo também está disponível nos aplicativos de podcast, como o Spotify.