Arte e Cultura

Abertura adianta tônica do Festival de Verão: expansão dos afetos

Público não tomou conhecimento do temporal e lotou Conservatório para show da banda The Pulso in Chamas, formada por artistas drag

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Show de abertura mesclou boa música e engajamentoFoto: Foca Lisboa / UFMG

Ao dar início às atividades do 12º Festival de Verão da UFMG na noite desta segunda-feira, 5, a professora Leda Maria Martins, diretora de Ação Cultural da Universidade, fez lembrar o poema O lutador, de Carlos Drummond de Andrade, em seu elogio às lutas que, apesar de árduas, merecem ser enfrentadas. “Apropriando-me de Drummond, posso dizer que lutar pela cultura parece ser a luta mais dura. No entanto, lutamos, mal rompem as manhãs. No âmbito da realização ‘em si’ da cultura e da criação e produção de políticas de cultura, não há Pasárgada”, lembrou a professora, então flertando com a famosa obra de Manuel Bandeira.

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Temática possibilita troca de experiências e aprendizados, avalia Sandra AlmeidaFoto: Foca Lisboa / UFMG

A diretora e os demais organizadores do evento receberam o público do Festival no auditório do Conservatório UFMG, centro de Belo Horizonte, que ficou lotado para as apresentações, mesmo em face do temporal que caía na cidade, no horário do evento. Após a solenidade de abertura, o público assistiu a um show da banda The Pulso in Chamas, formado por drag queens – entre elas, a cantora e performer Bella La Pierre, que no evento cumpriu também a função de mestre de cerimônias.

Na recepção oferecida ao público, a atriz demarcou a importância da visibilidade proporcionada pelo Festival para a arte que ela e suas companheiras de banda realizam. “A UFMG trouxe para o seu Conservatório de música uma arte que até há pouco tempo era vista como underground, uma coisa do submundo. E agora nós, drag queens, estamos aqui, mostrando o nosso trabalho, ‘dando o nosso nome’”, afirmou a atriz, sendo imediatamente ovacionada pelo público. “Preciso agradecer por esse respeito e consideração pela diversidade. Estamos muito felizes em poder adentrar este espaço. Isso é muito importante para nós”, disse.

Um dos motes da banda é a representação da mulher na sociedade, além das discussões sobre empoderamento negro e LGBTQIA (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Intersexuais, Assexuais). Sobre isso, a cantora afirmou: “Em nome da liberdade de expressão, estou aqui representando todas as mulheres. Sou drag queen; sou mulher. Nós podemos ser o que nós quisermos. Drag é arte, é expressão, é política. Estamos aqui para ‘dar o nome’”, repetiu, para ser aplaudida mais uma vez por um público formado por jovens e idosos, adultos e crianças, famílias e profissionais envolvidos com as atividades do festival.

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Leda: trabalho com cultura é fruto de 'amor continuado'Foto: Foca Lisboa / UFMG

Envolver e desenvolver
Em sua fala, Sandra Goulart Almeida, vice-reitora da UFMG e reitora eleita para a gestão 2018-2022, destacou a pertinência da temática escolhida para este ano. “Os temas das edições do festival sempre me deixam emocionada e, para 2018, Universos expandidos não poderia ser mais apropriado. A UFMG trabalha justamente com essa concepção de universos plurais, expandidos”, disse, aludindo a uma ideia de expansão não apenas como desenvolvimento, mas também como envolvimento.

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Juarez: conhecimento, cultura e artes expandem existência e percepção que se tem delaFoto: Foca Lisboa / UFMG

“Para nós, esse ‘expandir’ ocorre em um movimento de mão dupla, tem um duplo sentido: a UFMG alcança a cidade e a cidade alcança a UFMG. Para nós, esse mútuo aprendizado é muito importante. De um lado, podemos compartilhar as nossas experiências, mostrar o que nós produzimos na Universidade; de outro, temos a oportunidade de aprender muito com todos os convidados que vêm participar do Festival. A gente aprende muito durante todo esse processo de interação”, disse.

Juarez Guimarães Dias, diretor artístico do Festival, aproveitou o ensejo para se aprofundar nos sentidos que subjazem à temática escolhida para o evento. “O tema Universos expandidos visa destacar como o conhecimento, a cultura e as artes expandem nossa existência e a percepção que temos dela. Ao pensarmos a ideia de ‘expansão’, estamos pensando em amplificação, avolumamento, crescimento, prolongamento, dilatação, alargamento, aumento, ampliação, e também em propagação, difusão, disseminação, espalhamento”, afirmou.

“O Festival de Verão é o encontro da Universidade com a cidade: o encontro do que a Universidade produz com o que está além de suas fronteiras”, disse. “É nesse encontro, nesse diálogo com a diversidade, com a pluralidade e com a diferença – e no respeito a elas – que podemos expandir os nossos universos e crescer com eles.”

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The Pulso in Chamas, banda formada por drag queensFoto: Foca Lisboa / UFMG
Artista Bella La Pierre se alternou entre mestre de cerimônias e cantora
Bella La Pierre se alternou entre mestre de cerimônias e cantora Foto: Foca Lisboa / UFMG

Saber e sabor
Ao relembrar a Pasárgada de Manuel Bandeira, Leda Maria Martins demarcou os desafios de se empreender, hoje, a cultura sob a perspectiva da diversidade. “[No trabalho com cultura,] Não há Pasárgada. O que há é um amor continuado, às vezes possível de ser e de acontecer, às vezes frustrado ou renunciado. Trata-se de um amor que se faz com engenho e arte, no entanto; um amor que vai ao encontro desejado do diverso. Um amor que, como diria Roland Barthes, traduz um pouquinho de saber e – no Festival, esperamos – o máximo de sabor”, afirmou, lembrando a perspectiva teórica do amoroso pensador francês.

A professora da Faculdade de Letras ainda destacou a riqueza do tema escolhido. “Ele nos possibilitou continuar exercitando a inclusão do diverso e a expansão da escuta e dos olhares para uma variada gama de lugares e de sujeitos, que a nós oferecem novos pontos de vista e ideias para a nossa fruição.” Por fim, a diretora agradeceu mais uma vez aos participantes. “A todos que conosco compartilham, com generosidade, os seus conhecimentos, os seus múltiplos e diversos saberes, eu agradeço: com ternura, respeito, admiração, reverência e com todos os afetos.”

O Festival de Verão da UFMG segue até quinta-feira, 8, com palestras, oficinas e atrações artísticas. Suas atividades são realizadas no Conservatório, no Centro Cultural, no Espaço do Conhecimento e no campus Saúde da UFMG. As atualizações sobre o evento podem ser obtidas no site do festival e em seu Facebook, Twitter e Instagram.

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Apesar da chuva, público compareceu em peso ao eventoFoto: Foca Lisboa / UFMG

Ewerton Martins Ribeiro