Acesso cresce, mas desigualdade no ensino superior ainda desafia América Latina
Reitora Sandra Goulart Almeida apresentou o caso brasileiro em evento do Iesalc
Na tarde desta terça-feira, 17, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida participou da conferência Desigualdades no acesso à educação superior pelas populações desfavorecidas da região da América Latina e do Caribe no contexto da pandemia de covid-19, organizada pelo Instituto Internacional para a Educação Superior na América Latina e no Caribe (Iesalc), vinculado à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Motivado pelo Dia Mundial de Acesso à Educação Superior (Wahed), comemorado hoje, o evento reuniu reitores de universidades da América Latina e do Caribe para discutir formas de combater as desigualdades no acesso à educação superior na região, sobretudo no atual contexto de pandemia, que acentuou desigualdades. A abertura das discussões foi feita por Francesc Pedró, diretor do Iesalc, que recepcionou os participantes com resumo de um informe sobre o cenário atual da educação superior na região, previsto para ser publicado ainda hoje no site da Iesalc.
Em sua comunicação, denominada Rumo ao acesso universal à educação superior, Pedró informou que “o acesso à educação superior dobrou em todo o mundo nas últimas duas décadas”, que “a América Latina e o Caribe compõem a região onde esse crescimento foi mais expressivo” e que, na maioria dos países – sobretudo na América Latina –, “esse crescimento propiciou maior presença de mulheres na educação superior”.
Por outro lado, o diretor informou que, no mesmo período, a desigualdade desse acesso, em termos gerais, aumentou, em vez de diminuir. Dado esse contexto, os participantes foram convidados a reportar a realidade de suas respectivas universidades, para que juntos os reitores pudessem pensar em estratégias para combater esse crescimento da desigualdade.
O Brasil
Sandra iniciou sua fala apresentando um panorama do contexto nacional, em que apenas 17,4% da população com 25 anos ou mais tem formação superior concluída, e o Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece para 2024 a meta de se ter 33% de alunos nas Universidades “na idade certa”, isto é, dos 18 aos 24 anos. “Em 2018, esse índice ainda era de apenas 23% dos alunos”, disse a reitora, exemplificando os desafios que as universidades brasileiras têm pela frente – sobretudo quando o governo federal demonstra não ter a expansão do ensino superior público do país e a redução de sua desigualdade como prioridade.
Contudo, Sandra lembrou que, em gestões anteriores (de 2005 a 2018), o número de alunos no ensino superior brasileiro saltou de cerca de 550 mil para mais de 1,3 milhão. “Houve grande expansão em nosso sistema federal de educação no período”, destacou a reitora, lembrando que esse processo foi atravessado por uma série de medidas redutoras da desigualdade do sistema.
Esse aumento, ela explicou, ocorreu por meio de várias iniciativas federais de fomento realizadas no período, com foco no incremento mais democrático do ensino superior público no país, como o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), em 2007, a “Lei de cotas”, em 2012, a “Lei PCD”, para alunos com deficiência, de 2016, entre outras ações afirmativas.
“Apesar disso, ainda estamos muito longe de alcançar os nossos objetivos relativos à redução das desigualdades no acesso ao ensino superior por parte das populações menos favorecidas”, ponderou a reitora. “Ainda temos um grande caminho por percorrer e precisamos criar oportunidades de mobilidade social”, resumiu.
O caso da UFMG
Em seguida, a reitora apresentou o caso e os números específicos da UFMG, assim como algumas projeções da Universidade para o pós-pandemia. “Temos hoje uma preocupação muito grande não apenas com o acesso, mas também com a permanência do aluno na Universidade até a conclusão do seu curso”, explicou.
“Hoje, vivemos uma situação muito triste em razão não só da pandemia, mas também da atual política do governo federal de reduzir o investimento nas universidades públicas. Com isso, muitas vezes não conseguimos dar o apoio que queremos aos estudantes para que permaneçam na Universidade”, afirmou Sandra Almeida. Mesmo assim, disse a reitora, a UFMG vem realizando grandes esforços para mitigar a desigualdade digital, que dificulta o acesso dos segmentos menos favorecidos da população ao ensino remoto adotado durante a crise sanitária.
Os outros conferencistas do evento foram Sir Hilary Beckles, vice-reitor da Universidade das Índias Ocidentais e presidente da Associação de Universidades e Institutos de Pesquisa do Caribe, Marcelo Knobel, reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Rodrigo Arim, reitor da Universidade da República (Udelar), do Uruguai.
A íntegra das conferências pode ser conferida no canal do Iesalc-Unesco no YouTube: