Acolhimento em saúde mental da Faculdade de Medicina inclui pessoas enlutadas pela covid-19
Projeto TelePAN, que oferece teleconsultas, atende profissionais de saúde há um ano; expansão do atendimento gera demanda por voluntários
Um ano após o início das atividades do Projeto TelePAN Saúde, da Faculdade de Medicina da UFMG, que oferece teleconsultas em saúde mental e saúde em geral para profissionais da saúde do Brasil que estão na linha de frente do combate à pandemia, ainda não é possível respirar aliviado. Com o agravamento da crise, que tem provocado números recordes de mortes nas últimas semanas, a necessidade de reforçar a saúde mental tornou-se ainda maior. Por isso, além da atender aos profissionais de saúde, o projeto agora passa a assistir pessoas que perderam familiares para a covid-19. E para dar vazão às buscas pelo suporte, o projeto continua recrutando voluntários com formação na área que possam colaborar com as teleconsultas.
A iniciativa da Faculdade de Medicina, proposta pela Associação Brasileira de Neuropsiquiatria (ABNP) e parceiros, oferta atendimento gratuito e on-line para serviços como psicoterapia individual breve de apoio, terapia de grupos e consultas médicas, entre outros. Tanto os profissionais de saúde da linha de frente quanto pessoas que estão vivenciando o luto, de qualquer região do país, podem solicitar atendimento pelo site do projeto.
De acordo com o coordenador do TelePAN, professor Helian Nunes, do Departamento de Medicina Preventiva e Social, a expectativa é que se cadastrem mais de 600 pessoas nos próximos meses, com a expansão dos atendimentos. No entanto, caso a pandemia se agrave, a demanda pelas teleconsultas pode se tornar ainda maior, daí a necessidade também de ampliação do número de voluntários com qualificação na atenção em saúde mental, que podem se inscrever por meio de formulário online.
Luto inacabado
O país ultrapassou a triste marca de 375 mil perdidas. Apenas nos 19 primeiros dias deste mês de abril, foram registradas 53.167 mortes por covid-19. Helian Nunes ressalta, que, devido ao grande número de óbitos, milhares de pessoas estão vivenciando um luto diferente por familiares vítimas da covid-19, o que demanda rede de suporte especializado. “Esse processo de luto durante a pandemia tem sido considerado diferente, pois são impedidos os rituais tradicionais que facilitam a elaboração do luto. Devido às regras de comportamento para a prevenção da covid que orientam para o afastamento físico, esse luto tem sido chamado por alguns autores de 'luto inacabado'”, comenta o professor.
Nunes explica que ainda não há estudos que avaliem detalhadamente os impactos dessas perdas a curto, médio e longo prazo. Esses impactos podem ser maiores ou menores dependendo da idade, da pessoa que faleceu, do vínculo dessa pessoa com os familiares e da importância dela não apenas no contexto só familiar, mas também no comunitário. “Mas já há estudos que revelam maior risco de depressão, de transtorno de ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático, abuso de substâncias psicoativas e maior risco de suicídio”, explica.
Balanço
O TelePAN Saúde iniciou as atividades em abril do ano passado, e, desde então, cadastraram-se 488 pessoas em busca de ajuda e 1021 voluntários, o que possibilitou milhares de atendimentos e procedimentos individualizados ou em grupo.
A maioria dos trabalhadores da saúde que procuraram o projeto são homens, com média de idade de 37 anos. Um em cada três integra equipes de enfermagem. Mais da metade ainda está em atendimento no TelePAN. A principal demanda foi para suporte emocional ou psicoterapia breve individual de apoio, e a maior parte dos trabalhadores foi encaminhada para atendimento com servidores ativos e aposentados da UFMG na área de Psicologia.
“Os profissionais de saúde compõem o grupo de trabalhadores com maior risco de adoecimento mental neste momento de pandemia, sobrecarregados do ponto de vista físico e emocional, por período prolongado”, destaca o professor. Ele também chama a atenção para a possibilidade de esses profissionais vivenciarem formas de estresse pós-traumático que só ficarão evidentes meses ou anos após a situação vivenciada.
Helian Nunes informa que a meta é manter sempre dois voluntários para cada solicitação de atendimento, o que garante que não haja problema de continuidade. Ele destaca a importância de não sobrecarregar os voluntários e lembra que foi preciso manter o acompanhamento de mais da metade dos cadastrados para atendimento, em razão das vulnerabilidades dos que têm procurado o projeto.
Projeto TelePAN Rio Doce UFMG
O projeto também atua com grupos de trabalhadores da mineração que foram atingidos pela tragédia do rompimento da barragem de Mariana (MG), em 2015, por meio do Programa Participa UFMG – Mariana / Rio Doce: enfrentamento da pandemia de covid-19. Leia mais.