Semana do Conhecimento

Estudantes de Odontologia devem acompanhar gestantes, conclui pesquisa

Trabalho de graduanda mostra que 84% dos alunos não fizeram atendimentos

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Pesquisadoras da Odontologia debateram resultados de estudo da graduaçãoFerdinando Marcos / UFMG

“É necessário estabelecer estratégias que propiciem maior contato dos alunos em formação com as pacientes gestantes”, afirmou a graduanda da Faculdade de Odontologia Raíssa Elias durante a mesa-redonda Tratamento odontológico durante a gestação no ensino da graduação, realizada na tarde de ontem, 17, na programação da 26ª edição da Semana do Conhecimento.

Na ocasião, foram apresentados os resultados da pesquisa desenvolvida por Raíssa acerca da percepção e dos conhecimentos dos alunos de odontologia da UFMG sobre tratamento de pacientes gestantes.

Alguns números contidos nas conclusões do trabalho alertam para a necessidade de repensar o percurso de formação. Embora 83% dos alunos tenham interesse em atividades de ensino que envolvam o pré-natal odontológico, 84% não atenderam gestantes, sendo os alunos do décimo período, em função da maior ocorrência de disciplinas de atendimento de urgência , os que relataram mais atendimentos.

Através de aplicação de questionários, a graduanda, orientada pela professora Lívia Guimarães Zina, analisou quantitativamente – por meio do software Epi Info – as respostas de 303 alunos, entre o quarto e o décimo período do curso. Ela também conduziu análise qualitativa por meio de questões abertas.

O estudo foi motivado pela percepção de que é baixa a taxa de procura por atendimento odontológico nos hospitais da cidade por gestantes. O período de gestação é responsável por uma série de alterações físicas, psicológicas e fisiológicas nas mães. Nos questionários, as perguntas investigavam, entre outros aspectos, o uso de anestésicos, raios-X e a medicação que pode ser prescrita. 

Entre os alunos que realizaram atendimento pré-natal, 43% afirmaram que se sentem preparados para este tipo de procedimento, que na maior parte dos casos envolve restauração dentária e orientação sobre saúde bucal. Raíssa Elias lembrou, entretanto, que o cruzamento desses dados com as respostas erradas dos alunos sobre os melhores procedimentos de anestesia e prescrição levará a queda do percentual. E apesar de 62% dos respondentes afirmarem ter recebido orientação sobre o pré-natal odontológico, 28% dos alunos relatam dificuldades no atendimento.

Parte de uma rede
Na segunda parte do evento, a cirurgiã-dentista da prefeitura de Belo Horizonte Paula Molina, mestranda em Odontologia em Saúde Pública da UFMG, e a ex-coordenadora de saúde bucal de Belo Horizonte Ana Pitchon, doutoranda na Universidade, falaram sobre acompanhamento odontológico pré-natal. Ambas foram responsáveis pela elaboração do protocolo de atendimento odontológico do SUS na capital.

Ao abordar a rotina de acompanhamento do SUS, Paula Molina ressaltou que o atendimento continuado, hoje assegurado por lei estadual, é fundamental desde a constatação da gravidez. “Temos que nos reconhecer como profissionais de saúde, parte de uma extensa rede de cuidados ao paciente”, afirmou.

Paula Molina convidou o público presente no auditório da Faculdade de Odontologia a avaliar gestantes hipotéticas, de quadros normais a quadros de hipertensas, e ressaltou que “o mais importante é que se acompanhe a história da paciente para que se possa traçar perfil amplo da gestante e gerarmos confiança, mitigando o abandono do acompanhamento, que sabemos ser muito recorrente e cercado por mitos como os de gestante não pode fazer raios-X ou não pode tomar anestesia".

Raíssa Elias fez um esclarecimento sobre um desses mitos: para que a radiação afetasse minimamente um feto, seriam necessários mais de 500 exames de raios-X, número inalcançável em qualquer cenário. 

Grades fragmentadas

Funcionária do SUS por mais de dez anos, Ana Pitchon alertou que, em Belo Horizonte, "menos de metade das gestantes acessam os serviços odontológicos, e desse número, menos da metade conclui o tratamento”.

Ela salientou que está nas grades fragmentadas dos cursos a fonte da falta de preparo dos alunos para lidar com o atendimento pré-natal. “Verifiquei a grade de uma das faculdades mais respeitadas no país e vi a temática de gestação primeiro no quarto período e, depois, apenas no nono. As lacunas na formação fazem toda a diferença no atendimento pois o ser humano não é dividido em especialidades como os currículos dos cursos. Um ensino menos fragmentado certamente vai qualificar o atendimento”, concluiu.

Recentemente, foi inaugurada a disciplina de acompanhamento odontológico para gestantes na Faculdade de Odontologia. De formação livre, a disciplina pode ser cursada por alunos de todos os cursos da graduação.