Aprovação à pena de morte no Brasil alcança índice mais alto em pesquisa desde 1991
Professor Carlos Roberto Horta, do Departamento de Ciência Política da UFMG, comentou dados da pesquisa do Instituto Datafolha
Uma pesquisa divulgada nessa segunda-feira, 8 de janeiro, pelo Instituto Datafolha mostrou que mais da metade dos brasileiros apoiam a implementação da pena de morte no país. O número de pessoas que são a favor da pena capital cresceu nos últimos dez anos, desde que a questão passou a ser aplicada pelo Datafolha, em 1991. Na pesquisa divulgada ontem, 57% das pessoas entrevistadas disseram concordar com a pena de morte.
O professor Carlos Roberto Horta, do Departamento de Ciência Política (DCP) da UFMG, destacou, em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta terça-feira, 9, que, apesar da aprovação demonstrada pelos brasileiros na pesquisa, o número de países que adotam a pena de morte vem diminuindo ao longo dos anos.
“É importante observar que superar essa etapa de pena de morte, de eliminar a pessoa pelo crime cometido, faz parte do processo civilizatório. A caminhada histórica para a civilização significa reduzir essa punição a uma punição que a pessoa sofra o castigo ao longo da vida. Se a morte é o fim de tudo, a pena de morte muitas vezes pode ser até uma graça concedida”, defendeu o professor, que coordena o curso de Ciências Sociais.
Desejo de violência
Para o professor Carlos Horta, quando os períodos de maior dificuldade se intensificam, como o que estamos vivendo no Brasil, a mentalidade das pessoas fica mais próxima do desejo de violência. “Querer pena de morte é desejar matar”, afirmou.
Em 2008, a aprovação era de 47%, número que cresceu dez pontos na pesquisa divulgada em 2018. “É interessante observar que, no início da década de 1990, o índice ficava em torno de 54%, 52%. Dada a margem de erro, podemos dizer que, em 1992, a taxa estava próxima à de agora. Isso significa que a política econômica está produzindo violência, desejo de violência, aumento da pobreza, desemprego”, contextualizou
Segundo Carlos Horta, “estranhamente”, apesar da condenação expressa do assassinato pela Bíblia Sagrada, livro referência dos cristãos, “as pessoas que têm religião” são bastante responsáveis por esse “crescimento da aprovação da pena de morte”. “Entre os católicos, há mais gente a favor da pena de morte que entre os evangélicos, e esses aprovam mais que os ateus”, frisou.
Aprovação entre os mais pobres
A pesquisa revelou ainda que a porcentagem de aprovação à pena de morte é de 51% entre os entrevistados que recebem entre cinco e dez salários mínimos; num grupo mais rico, a taxa é de 42%.
“Essas pessoas [mais pobres] convivem mais com a violência. Elas recebem violência do sistema econômico, dos patrões – que pagam mal e desobedecem às leis trabalhistas –, na rua, elas estão expostas a serem mais molestadas pela polícia. Então o convívio delas acaba sendo com uma vida mais atravessada por situações difíceis. Como violência gera violência, as pessoas que são mais violentadas em seu cotidiano acabam desenvolvendo a ideia de fazer com o outro aquilo que é feito com elas”, explicou Carlos Horta.
O professor destaca que, caso a pena de morte seja adotada no Brasil, as maiores vítimas serão justamente as pessoas mais pobres. “A pena de morte no Brasil mataria principalmente os negros. É preciso pensar nisso”, alertou.
A pesquisa
No levantamento, realizado nos dias 29 e 30 de novembro de 2017, foram feitas 2.765 entrevistas presenciais em 192 municípios, com margem de erro máxima de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. A pesquisa completa pode ser consultada no site do Instituto Datafolha.