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Audiolivro 'Transradioativa' aborda a luta de Valéria Barcellos contra o câncer e a transfobia

Título da obra surgiu a partir de uma brincadeira entre a multiartista e o oncologista que a acompanhou no tratamento da doença

Obra gerou interesse internacional e será traduzida para o sérvio no próximo ano
Obra gerou interesse internacional e será traduzida para o sérvio no próximo ano Reprodução/Editora Arole Cultural

Junho é o mês do orgulho LGBTQIA+ e traz um lançamento literário de grande representação para a comunidade. Valéria Barcellos, cantora, atriz, DJ, performer, escritora e artista plástica, acaba de lançar e narrar o audiolivro Transradioativa: Você me conhece porque tem medo ou tem medo porque me conhece?.

A obra é uma reunião de crônicas escritas por ela durante o período de tratamento de um câncer que a fez refletir sobre suas vivências e memórias. São relatos da sua luta contra a destruição dos conhecimentos, dos saberes de culturas da população negra e LGBTQIA+, das suas experiências, de suas expressões artísticas e, também, das suas vitórias contra a doença. 

Em entrevista ao programa Universo Literário desta terça, 8, Valéria Barcellos contou que a ideia de escrever surgiu da necessidade de entrar em contato com as pessoas, já que, antes mesmo da pandemia, a artista estava afastada dos palcos devido ao seu tratamento. Ela mantinha um blog e, a partir da escrita para a internet, fez um post no Facebook lendo uma de suas produções que teve muito mais alcance na rede social do que os textos escritos. A partir daí surgiu a  hashtag #ValériaLêPraMim, que foi o início do projeto do audiolivro.

A escritora também contou como se tornou uma multiartista. Primeiro ela se envolveu com a música, cantando aos 6 anos, depois vieram o teatro e as outras manifestações de arte. Para Valéria Barcellos, desenvolver essa multiplicidade de expressões foi uma necessidade, pois sentia que mais ninguém abordaria as questões das pessoas trans sob seu ponto de vista.

Sobre o processo de narração da obra, a autora de Transradioativa detalhou o simbolismo em usar a própria voz. "Narrar um livro é maravilhoso porque as pessoas vão ver realmente a minha intenção: a vírgula onde está e a respiração onde eu gostaria que estivesse quando eu escrevi. E também porque é uma voz literalmente sendo ouvida e isso tem muito significado. Mas já tínhamos Amara Moira que narrou E se eu fosse puta?, o primeiro livro dela, e Carol Marra que narrou Elvis e Madona. E eu fiquei pensando porque me colocaram como a primeira, mas eu não sou a primeira e nem sabia que não era. Mas a imprensa começou a me interpelar e fiquei pensando como o mundo está formado. Nossas agruras estão todos os dias nos jornais e as nossas glórias nunca aparecem, a ponto da gente não saber de coisas como essa, que já haviam outras narradoras”, refletiu.

Valéria Barcellos é detentora da maior honraria dada a mulheres no estado do Rio Grande do Sul, o Troféu Mulher Cidadã, da Assembleia Legislativa. A artista é uma referência no meio LGBTQIA+, além de ser ativista da transnegritude e do transfeminismo. A entrevista também tratou sobre essas questões políticas que envolvem desde violência e exclusão até representatividade e cotidiano de uma mulher e artista trans.

Produção: Carlos Ortega e Marden Ferreira, sob orientação de Luíza Glória e Hugo Rafael
Publicação:
Flora Quaresma, sob orientação Alessandra Dantas