Brasil está entre os 10 países que mais agridem e matam comunicadores no mundo
Dados divulgados pela Unesco e FENAJ revelam quadro preocupante sobre as condições de trabalho de jornalistas no país e no mundo
Fevereiro acaba de começar e o ano de 2022 já apresenta uma conta assustadora: no primeiro mês, foram registrados assassinatos contra jornalistas em cinco países, representando 16% do total das mortes de 2021 somadas. Os dados são da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que aponta a América Latina, que em 2021 havia ficado em 2º lugar em número de crimes fatais, atrás apenas da Ásia, saiu na frente este ano, respondendo por 7 casos: quatro no México, dois no Haiti e um em Honduras.
No Brasil, a situação também é preocupante. Segundo dados de 2021 divulgados pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), o número de agressões a jornalistas e a veículos de comunicação manteve-se em alta. Ao todo, foram registradas 430 ocorrências, a maior parte casos de censura ou descredibilização da imprensa. Outros tipos de violência incluem agressões físicas ou verbais, ataques virtuais, impedimentos ao exercício profissional e até mesmo assassinatos.
Profissionais da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), responsável por gerir as emissoras de rádio e televisão públicas federais, foram os mais agredidos, seguidos por profissionais de TV e mídias digitais, respectivamente. O presidente Jair Bolsonaro segue como o principal agressor. Ao todo, o presidente foi responsável por 147 casos de descredibilização ou agressão verbal. Esses e outros dados fazem parte do Relatório da Violência Contra Jornalistas, divulgado anualmente pela FENAJ. O Brasil está entre os 10 países que mais agridem e matam comunicadores no mundo. Entre 1995 e 2018, foram registrados 64 assassinatos de trabalhadores da mídia, números comparáveis aos de países em guerra. Mas segundo a FENAJ, esses dados são subnotificados. Muitos profissionais não procuram ajuda por medo de exposição ou retaliação.
Para um quadro mais amplo e maior entendimento sobre o contexto brasileiro de violência à imprensa, o programa Conexões desta quarta-feira, 9, convidou para uma entrevista a presidenta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Alessandra Mello. Durante a conversa, foi abordada a questão da subnotificação e a falta de ação de entidades da justiça para apurar melhor os casos de violência contra jornalistas, com destaque para a necessidade de maior proteção desses trabalhadores. “O ataque ao jornalismo é um atentado contra a liberdade de expressão e atinge toda sociedade num momento como esse, de proliferação de desinformação”, completou a presidenta.
Mello comentou que os ataques contra os profissionais da comunicação têm passado do ambiente virtual para o presencial, aumentando as vítimas de violência física. Para ela, isso se deve muito ao estímulo de Bolsonaro a esse tipo de comportamento. “Se o mandatário do cargo mais importante da República prega violência contra jornalista, descredibiliza a imprensa, é agressivo e usa palavras de baixo calão, isso cria um respaldo à sociedade para agir da mesma maneira”, refletiu a convidada. A presidenta também explicou que esse quadro prejudica a imagem do Brasil tanto pelos números quanto pelo silenciamento da informação, o que representa um problema ainda maior diante do atual contexto do país e gera o enfraquecimento e perda de credibilidade da própria política.
Ouça a entrevista completa no Soundcloud.
O Relatório da Violência Contra Jornalistas completo, com detalhes de cada uma das ocorrências registradas, está disponível no site da FENAJ.
Produção: Carlos Ortega, sob orientação de Luiza Glória
Publicação: Enaile Almeida, sob orientação de Hugo Rafael