Bebês de grandes cidades brincando na areia ou na grama é cena cada vez mais rara. Mas essa atividade simples pode contribuir para o desenvolvimento motor das crianças. Se não há abundância de espaços seguros para que elas andem descalças, já é possível usar sapatos adequados para ajudá-las também no desenvolvimento dos pés.

Um calçado que simula o comportamento da natureza sob os pés das crianças para o correto desenvolvimento dos membros e da caminhada, criado pela designer e pesquisadora Ana Paula Lage, foi testado por fisioterapeutas da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG. Os testes de laboratório com usuários certificaram que o calçado Noeh ativa o arco plantar, a curva do pezinho.

De acordo com Ana Paula, essa foi a primeira parceria público-privada com a EEFFTO para prestação de serviço. Também foram feitas outras parcerias com a unidade acadêmica, e está em andamento um novo projeto para a análise de desenvolvimento de crianças, que envolve outro tipo de produto. A empresa repassa um percentual para a Universidade, o que possibilitou a contratação de nove bolsistas. Além da importância da aplicabilidade, uma vez que a pesquisa resulta em produto que circulará no mercado, há ainda, segundo ela, o aspecto do benefício social.

O primeiro Noeh
Após quatro anos de estudos que reuniram profissionais de medicina ortopédica, fisioterapeutas e engenheiros, Ana Paula Lage conseguiu transferir para o calçado os benefícios que a caminhada descalça em solo natural propicia para os bebês. Para testar a eficácia do Noeh, fisioterapeutas com doutorado e pós-doutorado em cinesiologia, neurociências, reabilitação, engenharia biomédica e engenharia mecânica, do Laboratório de Análise do Movimento da EEFFTO, fizeram testes de análise de marcha e eletromiografia muscular em 21 crianças, de 11 a 17 meses de idade, no início da aquisição da marcha, e verificaram que o calçado não altera o padrão da caminhada da criança.

Os fisioterapeutas da UFMG constataram também que o Noeh é o calçado que mais estimula a formação do arco plantar – a diferença é de mais de 50% na comparação com o calçado de desempenho mais próximo.

A fisioterapeuta Liria Okai-Nóbrega, que tem pós-doutorado em Ciências da Reabilitação pela UFMG, acompanhou os testes e conta que os efeitos dos calçados na forma de andar das crianças foram imediatos. “Nesse estudo, verificamos que, geralmente, o uso de calçados influencia no tamanho da pisada, na largura do passo e na forma como a criança eleva o pé, por exemplo. Isso mostra que o tipo de calçado tem influência direta no modo como a criança anda”, explica.