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Capacitismo é falta de empatia, afirmam pesquisadoras e estudantes da UFMG

Episódio capacitista durante evento político motivou reflexão sobre como se comunicar de forma hospitaleira com pessoas com deficiência

Um pedido capacitista. Assim ativistas e influencers defensores dos direitos das pessoas com deficiência têm definido um episódio recente do campo político: a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, durante evento do PL Mulher, pediu à deputada Amália Barros (PL-MT), para retirar a prótese ocular. Críticas ao ocorrido, como a do influenciador da inclusão e criador de conteúdo digital Ivan Baron, viralizaram e acenderam debates nas redes: como se comunicar com as pessoas com deficiência de forma hospitaleira e não discriminatória?

Em reportagem especial, a Rádio UFMG Educativa convidou pesquisadoras da Universidade e estudantes pessoas com deficiência (PcD) para avaliarem aspectos do preconceito e da discriminação às PcD: o capacitismo.

Empatia e diálogo: essenciais para se vencer o preconceito
Empatia e diálogo: essenciais para se vencer o preconceito Pexels

O que é o capacitismo

Para a professora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG e coordenadora do Afetos: Grupo de pesquisa em comunicação, acessibilidade e vulnerabilidade - UFMG, Sônia Pessoa, o capacitismo é o preconceito e por consequência a discriminação às PcD, manifesto de diversas maneiras, como duvidando ou subestimando a capacidade profissional, estudantil, amorosa, sexual ou qualquer outra perspectiva da vivência da pessoa. 

A estudante do curso de relações públicas da UFMG Mariana Gomes é uma pessoa com visão monocular, quando se enxerga apenas por um dos olhos, e também utiliza prótese ocular, como a usada pela deputada Amália Barros. Para Mariana, muitas pessoas confundem humor e intimidade com constrangimentos: “ninguém pode constranger às pessoas com deficiência, falar por nós e decidir quando devemos ou não tirar uma prótese”. 

Comunicação hospitaleira 

A professora Sônia Pessoa é uma das organizadoras do livro “Comunicação e acessibilidades: um guia para práticas hospitaleiras”. Para ela, a comunicação com PcD e com qualquer outra pessoa, em especial com minorias sociais, grupo de pessoas às quais são negados direitos e praticadas diversas formas de violência cotidianamente, deve ser hospitaleira: ouvir, acolher e perceber quais são os limites expressos até mesmo pela fala da própria pessoa, sem ultrapassar barreiras, tocar na pessoa sem autorização ou ainda que autorizado estar atento se a autorização não se deu apenas por um constrangimento provocado.

Direitos das PcD

Os direitos das pessoas com deficiência são resguardados no Brasil por legislação específica, explica a mestra em Direito pela UFMG e assessora judiciária Silvia Volpini. Ao final do primeiro semestre, Silvia defendeu a dissertação “Sentidos da vulnerabilidade no contexto da deficiência a partir da análise de decisões judiciais”, junto ao programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade. Os resultados do estudo apontam para um entendimento diverso da questão da vulnerabilidade e que ainda não garante, em todos os casos, resoluções satisfatórias às PcD.

Em Belo Horizonte, a Divisão de Assistência judiciária da Faculdade de Direito da UFMG (DAJ), presta atendimento gratuito a pessoas com deficiência vítimas de violações (além de pessoas sem deficiência e em situações diversas. Em todo o país, o Disque Denúncia registra violências contra o grupo. Todos os anos, em média, onze mil denúncias de violações aos direitos das pessoas com deficiência são realizada por meio do telefone 100, de acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Bolsista da DAJ, o graduando em direito e pessoa com baixa visão, Mateus Cardoso, tem percebido em sala de aula e no estágio outra forma de ver a luta por questões fundamentais: “quando me formar, pretendo me dedicar em especial à defesa dos direitos das pessoas com deficiência, porque muita gente diz ser favorável a eles, mas, na prática, não é bem assim.

Sobre o episódio capacitista do PL mulher, a assessoria de imprensa do partido informou à nossa reportagem não ter recebido nenhuma manifestação ou reclamação contra qualquer fala ou ato durante o encontro do último sábado.

Para ouvir à reportagem em áudio, bastar dar o play no arquivo abaixo. 

Além da versão em texto e da versão em áudio, a Rádio também produziu, em parceria com o Núcleo de Redes Sociais do Cedecom, uma versão em vídeo para o Instagram da Universidade. O vídeo pode ser visto por meio do link para a postagem no Instagram. 

A Rádio UFMG Educativa é uma mídia do Centro de Comunicação (Cedecom) da UFMG, em parceria com a Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A programação também é transmitida em tempo real em sua página hospedada no Portal UFMG.

Serviço

Durante o recesso acadêmico, ao longo das férias de julho, a Divisão de Assistência Judiciária da UFMG presta atendimento remoto, até 14 de agosto. O agendamento pode ser feito por meio do site da DAJ

A partir de 14 de agosto, retorna o Plantão Presencial Porta Aberta, às segundas, entre meio-dia e 14h. O 

DAJ UFMG
Rua Guajajaras, 300, Centro, Belo Horizonte, MG. E-mail: ufmgdaj@gmail.com. Telefone: (31) 3409-8667.

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