Ópio ou luta?: 'Outra estação' discute dimensão política do carnaval de BH
Blocos se apropriaram das ruas da capital mineira, revitalizando a festa
Quem apostaria, nos últimos anos do século 20, que Belo Horizonte seria um dos principais palcos do carnaval brasileiro? Em 2019, mais de quatro milhões de pessoas marcaram presença nas ruas e avenidas da capital durante os 23 dias do período oficial da festa. Em 2020, 453 blocos cadastrados deverão arrastar os cinco milhões de foliões esperados.
O fortalecimento do carnaval de rua na capital mineira e sua dimensão política são discutidos no episódio desta semana do programa Outra estação, da Rádio UFMG Educativa. Também são apresentados blocos que surgiram com a proposta de unir engajamento e folia: Angola Janga, Praia da Estação, Tico-tico Serra Copo, Todo Mundo Cabe no Mundo e Xô Preconceito, Meu nome é Felicidade!. Ouça o programa na íntegra:
Ópio ou luta?
No primeiro bloco do programa, o professor de Urbanismo da Escola de Arquitetura da UFMG Roberto Andrés explica que o reflorescimento do carnaval popular em BH é fruto de um processo mais amplo ocorrido no Brasil, em que as pessoas retomaram o espaço público após um período de esvaziamento.
Para quem acredita que a festa momesca é o ópio do povo, o doutor em Humanidades, Legitimidades e Outros Direitos pela USP Carlos Andrade lembra da importância do carnaval em determinados momentos da história do País.
"O carnaval se transformou num espaço de vocalização, em circunstâncias repressivas, daquilo que não poderia ser dito com relação a determinadas figuras,principalmente ao longo dos nossos períodos autoritários."
Resistência
No segundo bloco deste episódio, são apresentados blocos que surgiram com a proposta de acolher pessoas que ainda se encontravam à margem do carnaval belo-horizontino. Criado em 2016, o Angola Janga ampliou-se como movimento social que luta pelo empoderamento da população negra. O Todo Mundo Cabe no Mundo, fundado pelo artista plástico Marcelo Xavier, tem como bandeira a inclusão das pessoas com deficiência. Estreante no carnaval 2020, o bloco Xô Preconceito, Meu Nome é Felicidade homenageia a Rua dos Guaicurus, no hipercentro, assim como as profissionais do sexo que trabalham e outras pessoas discriminadas.
Ao fim do programa, a recente disputa entre os blocos e as polícias Civil e Militar, em razão do endurecimento da fiscalização dos carros de som, com a aplicação de multas e apreensão de veículos às vésperas do feriado, levanta a possibilidade de cancelamento de desfiles no carnaval de 2020. De acordo com o Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG), dos 30 trios elétricos cadastrados na Prefeitura de Belo Horizonte para circular este ano, 15 estão com problemas na regularização veicular e precisam passar por adaptações. Já as agremiações afirmam, por meio de nota assinada por 52 blocos, que "o carnaval de BH, nos moldes que se popularizou na última década, é uma construção popular, que enfrenta resistências todos os anos".
Conteúdo extra
Redes sociais dos blocos entrevistados, por ordem de aparição no programa:
Xô Preconceito, Meu Nome é Felicidade!
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Todo Mundo Cabe no Mundo
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Bloco Faraó
Dissertação de mestrado Sob a "lente do espaço vivido": a apropriação das ruas pelos blocos de carnaval na Belo Horizonte contemporânea, defendida na UFMG
Produção
O trigésimo episódio do Outra estação foi apresentado por Camila Meira, com produção de Beatriz Kalil, Camila Meira e Larissa Reis. A edição é de Paula Alkmim, e os trabalhos técnicos são de Breno Rodrigues. O programa aborda, semanalmente, um tema de interesse social. Na Rádio UFMG Educativa (frequência 104,5 FM), vai ao ar às quintas-feiras, às 18h, com reprise às sextas, às 7h30. O programa também está disponível nos aplicativos de podcast.