Cenário atual da pandemia é proibitivo para o retorno de competições esportivas
Alerta é feito por estudo da Universidade Federal do Paraná, que recomenda modalidades e práticas esportivas adequadas para cada estágio de enfrentamento da crise
Na última quinta-feira, dia 21, em uma transmissão na internet, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender a retomada do futebol profissional no Brasil. As competições do esporte estão paralisadas no país, em virtude do combate à pandemia do novo coronavírus. A crise sanitária afetou a prática esportiva, tanto profissional como amadora, em vários países ao redor do globo. Grandes eventos foram adiados, como as Olimpíadas de Tóquio. Com a proibição de abertura de academias, clubes e outros estabelecimentos, muitas pessoas também tiveram que interromper a prática de atividades físicas.
Bolsonaro disse ter pedido ao prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, que autorizasse a volta do Campeonato Carioca, defendendo que os jogos fossem realizados sem torcedores nos estádios. Porém, pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Inteligência Esportiva, vinculado à Universidade Federal do Paraná, avalia que o retorno das competições esportiva, em especial o futebol, seria muito precipitado neste momento, mesmo sem a presença de público.
Intitulado Recomendações e orientações gerais para o esporte brasileiro frente à Covid-19, o estudo ressalta que o Brasil vive uma fase de crescimento do número de casos da infecção e que, por isso, precisa continuar cumprindo as recomendações feitas pelas autoridades públicas da área de saúde, especialmente pela Organização Mundial da Saúde. Segundo o professor Fernando Mezzadri (UFPR), um dos autores do estudo, a retomada das competições profissionais apresenta um risco, não apenas para os atletas, mas para todos os envolvidos: “Primeiramente, futebol é um esporte de contato, e o contato físico não é recomendado no momento. É necessário lembrar também que não são só os atletas que estão envolvidos em uma partida: há a equipe técnica, equipe prestadores de serviços como jardinagem, limpeza e manutenção. Não se pode ignorar todo esse contexto”, argumenta o professor.
Fernando Mezzadri também ressalta que haveria sérios problemas de logística, caso as competições de futebol profissional fossem retomadas no país. Atualmente, grandes estádios, como o Maracanã, têm seus espaços utilizados como hospitais de campanha. O professor também lembra que, durante o Campeonato Brasileiro, as equipes precisam viajar constantemente de uma cidade para a outra, frequentando aeroportos, hotéis e restaurantes. “A possibilidade de contato e de contágio vai aumentando consideravelmente a partir do momento em que essas práticas vão se efetivando”, afirma.
O estudo da Universidade Federal do Paraná define quais modalidades e práticas esportivas são recomendadas atualmente, e como outras atividades deverão ser retomadas gradualmente, com a evolução do combate à pandemia da Covid-19. Essas orientações foram definidas em relação a quatro cenários da pandemia. De acordo com o professor, o Brasil ainda está no primeiro cenário, com a doença em crescimento. Segundo o estudo, nessa fase, são recomendadas atividades que possam ser realizadas individualmente, como yoga e caminhadas e corridas em locais isolados.
Próximos cenários
O segundo cenário proposto pelo estudo terá início quando o número de casos de Covid-19 no país começar a cair. Nesse estágio, atividades coletivas sem contato físico, como o tênis e a peteca, serão recomendados. Em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, o professor Fernando Mezzadri afirmou que ainda não há previsão de quando o Brasil entrará nesta fase.
O terceiro cenário desenhado pela pesquisa projeta retorno efetivo aos treinos e início de competições esportivas sem torcida. O quarto e último cenário estudado só ocorrerá com o desenvolvimento de uma vacina ou medicamento capaz de controlar a a pandemia. Só assim será seguro voltar a ter competições com a presença de torcida nos estádios e ginásios.