Centro de Memória da Fale abriga exposição sobre a obra de Marcelo Dolabela
A produção do artista, que morreu em 2020, se materializou em múltiplas experimentações
Será inaugurada, nesta terça-feira, dia 20, no Centro de Memória da Faculdade de Letras (Fale), a exposição Marcelo Dolabela: arte, suor, souvenir, sobre a obra do poeta mineiro, que foi aluno da Fale na segunda metade do século passado. A exposição fica em cartaz até 18 de outubro e pode ser visitada de segunda a sexta, das 15h às 19h. A entrada é franca. A curadoria é de Emília Mendes, professora da Faculdade de Letras e coordenadora do Laboratório de Edição (Labed) da Fale, em parceria com Flávio Vignoli, tipógrafo e editor da Tipografia do Zé.
A obra de Dolabela se desdobrava em experimentações artísticas diversas, de cariz multimidiático, explicam os curadores no material de divulgação da exposição. Segundo escrevem Emília e Flávio, o objetivo da mostra é justamente “fazer o visitante experienciar essa ‘força dolabélica’ que tem, ao mesmo tempo, a sabedoria dos haicais, a delicadeza clássica do soneto, mas também o ácido, o acre e o azedo de uma inteligência fina, irônica, talentosa no manuseio do verbo, atenta e bem-humorada”. O Centro de Memória fica no segundo andar da Faculdade de Letras, no campus Pampulha.
O homenageado
Ponto de convergência das memórias culturais mineiras sobre a boa poesia marginal produzida em Belo Horizonte e em Minas Gerais nas últimas décadas do século 20, Marcelo Dolabela (1957-2020) publicou mais de 50 livros em vida, todos em pequenas tiragens, quase sempre em autopublicação. Neles, experimentou as mais diversas técnicas de impressão: mimeógrafo, xerox, carimbos, offset. “Sem softwares de edição, internet ou redes sociais, os livros eram montados em bonecas, as páginas construídas a partir de recortes e colagens, máquina de escrever, carimbos, letraset (cartelas com letras decalcáveis) e o que mais estivesse à mão. Em vez de gráfica, cola, papel, régua, estilete, tesoura, durex...”, detalham.
Suas obras, acrescentam os curadores, muitas vezes saíam simplesmente grampeadas em papeis baratos, em pequenos formatos. “O suporte não é o essencial, mas sim a qualidade da obra que é impressa nele: efêmero é o papel, não a palavra”, destacam. A luta, então, era por equacionar o desejo de espalhar a própria poesia com a limitação dos recursos financeiros disponíveis. Em razão disso, contam os organizadores, “a distribuição de seus livros era feita através de redes de amizades e de relações artísticas – na maioria das vezes, via correio”.
Outra marca da produção de Dolabela era a perspectiva comunitária, contexto no qual ele criou e/ou participou de múltiplos coletivos e publicações marginais que divulgavam o trabalho de veteranos e de iniciantes.
Lançamento de livro
Coincidentemente, a exposição Marcelo Dolabela: arte, suor, souvenir está sendo inaugurada no mesmo momento em que veio à tona a primeira coletânea panorâmica da obra do autor, finalmente coligida em uma edição profissional, que a reúne e organiza. O volume Jogo que jogo (Editora Impressões de Minas), organizado pelo pesquisador Gustavo Cerqueira Guimarães, foi lançado em Belo Horizonte no último dia 10, ocasião em que todos os exemplares levados pela editora se esgotaram.
Nesse livro, agora disponível para compra pela internet, o organizador Gustavo Cerqueira afirma, na apresentação do volume: “A partir do último quarto do século 20, Marcelo Gomes Dolabela (1957-2020) destacou-se como uma das vozes mais singulares e instigantes da poesia não apenas de Minas Gerais, mas de todo o Brasil. Reconhecido por seus pares, principalmente pela diversidade de sua poética, Marcelo Dolabela foi elogiado por figuras proeminentes do meio literário, como Glauco Mattoso e Paulo Leminski.”
Na orelha do livro, a poeta Ana Martins Marques reitera esse elogio à obra de Dolabela. Para ela, trata-se de uma obra “terna e satírica, culta e debochada, agridoce, sempre com disposição para o risco e a experimentação, sempre com uma atenção aguda para a materialidade das palavras (que se revelava também no aspecto artesanal das publicações)”. O apreço de tantos é explicado da seguinte forma pelos curadores da exposição ora inaugurada: “Marcelo era uma pessoa generosa. Ele queria que todos fossem artistas, que todos tivessem acesso à cultura e às possibilidades de se expressarem como quisessem.”
Sobre o Centro de Memória
Criado em 2014, o Centro de Memória da Faculdade de Letras é espaço de conservação e exposição de documentos, publicações – acadêmicas e literárias – e objetos que contam a história da Unidade. Além de guardar e expor essa memória institucional, o espaço sedia exposições temporárias relacionadas à trajetória acadêmica e criativa da unidade.
Segundo descrição no site da faculdade, a criação e manutenção do Centro de Memória situa-se no âmbito da política estabelecida pela UFMG com a decisão de estruturar a Rede de Museus, “que reforça o caráter democrático da Universidade ao abrir ao público a sua trajetória institucional, que vem a ser, em última instância, uma parte significativa da história das ciências e das artes no Brasil”.
As exposições mais comuns no espaço ocorrem ao modo “gabinete do livro”, programa criado no Centro Cultural UFMG em 2010 com foco em exposições editoriais de pequeno porte. O programa foi deslocado para o Centro de Memória em 2017, deflagrando uma série de mostras.
Exposição: Marcelo Dolabela: arte, suor, souvenir
Período: 20 de agosto a 18 de outubro, das 15h às 19h
Local: Centro de Memória da Faculdade de Letras da UFMG
Endereço: Avenida Antônio Carlos, 6.627, Pampulha
Livro: Jogo que jogo / Marcelo Dolabela
Organizador: Gustavo Cerqueira Guimarães
Editora: Impressões de Minas
157 páginas | R$ 50