Chacinas policiais e segurança pública no Rio de Janeiro são tema de entrevista no Conexões
Rede de Observatórios de Segurança registrou aumento de 23% no número de mortes em chacinas no estado entre janeiro e outubro em relação ao mesmo período de 2020
Pelo menos 9 pessoas foram vítimas de uma chacina policial no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro, no fim de novembro. A ação foi conduzida pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) da Polícia Militar do estado e foi motivada por vingança após a morte do PM Leandro da Silva. Na manhã da segunda-feira, 22, 8 corpos foram encontrados em um manguezal, com sinais de tortura e execução e foram retirados pelos próprios moradores da comunidade. Também foram relatadas agressões e invasões de casas, além de um churrasco feito por agentes no dia da operação.
Até outubro deste ano, a Rede de Observatórios de Segurança registrou que 71% das chacinas no Rio de Janeiro foram cometidas por agentes policiais. Vale lembrar que, em junho de 2020, o Supremo Tribunal Federal proibiu operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro até o fim da pandemia. Mesmo assim, de acordo com a Rede, houve um aumento de 23% no número de mortes em chacinas no Rio entre janeiro e outubro quando comparados ao mesmo período do ano passado.
As chacinas, tanto no Salgueiro quanto em outras localidades, e a segurança pública no estado foram tema de entrevista no programa Conexões dessa quinta-feira, 2, com o cientista social e pesquisador da Rede de Observatórios de Segurança Jonas Pacheco. O convidado detalhou que a Rede tem monitorado um número grande de operações que ocorrem imediatamente após a morte de um policial próxima a uma região de comunidade, configurando a ação como vingança ou revanchismo, na avaliação do grupo, em contraposição ao discurso oficial da PM de manutenção da ordem.
Pacheco frisou a importância dos dados coletados pela Rede, uma vez que as autoridades não divulgam informações sobre as incursões. Dessa maneira, ele explicou que os números são apurados por meio de um monitoramento das notícias dos veículos de imprensa, sempre verificando mais de uma fonte e atualizando os registros, como a quantidade de mortos em uma chacina que pode aumentar nos próximos dias após a contagem inicial. O cientista social avaliou a cobertura da mídia de casos como os do Salgueiro e do Jacarezinho, os mecanismos de fiscalização da atividade policial e o componente de racismo que envolve as operações.
O entrevistado lembrou que as mortes em chacinas no Rio vem crescendo todo ano desde 2013, com um pequeno recuo em 2020, ano em que foi anunciada a proibição de operações pelo STF, seguido de novo aumento este ano. A política repressiva é defendida abertamente pelo governo atual do estado, enquanto o pesquisador argumentou que o debate sobre segurança pública deve ser visto de maneira multifatorial. “Não pode ser vista como uma questão do mocinho e do vilão. Sempre tem que ser colocado o debate de maneira mais ampla. Não é só pensando as polícias, só pensando o sistema de justiça criminal, tem muitas outras variáveis a considerar. Uma é o sistema educacional, como está a evasão escolar da população jovem, acesso à cultura, acesso ao esporte. E o debate deve ser feito de maneira séria”, refletiu.
Ouça a entrevista completa pelo Soundcloud.
A Rede de Observatórios de Segurança é composta por 7 organizações de 7 estados e monitora notícias de segurança pública, violência e direitos humanos. Para acompanhar as análises divulgadas pela Rede, basta acessar o site.
Produção: Carlos Ortega e Enaile Almeida, sob orientação de Luiza Glória e Alessandra Dantas
Publicação: Alessandra Dantas