Comunidade quilombola sofre impactos do desastre de Brumadinho e da crise sanitária no Brasil
O território de Pontinha, na região central de Minas, foi atingido pelo rompimento da barragem do córrego do Feijão e encontra dificuldades para se reerguer durante a pandemia de covid-19
Na zona rural do município de Paraopeba, perto da divisa com Caetanópolis, na região Central de Minas Gerais, fica a comunidade quilombola de Pontinha, que reúne cerca de 3 mil pessoas. A extração do minhocuçu era a principal atividade econômica local e foi duramente afetada pelo rompimento da barragem de Brumadinho, em janeiro de 2019, com a contaminação do Rio Paraopeba pelos rejeitos da mineradora Vale. Desde então, os quilombolas passaram a sobreviver da venda de produtos agrícolas, do artesanato e do trabalho sazonal nas fazendas do entorno. Mas, com a atual pandemia provocada pelo novo coronavírus, essas atividades também foram prejudicadas. Mais de 350 famílias que moram na região enfrentam dificuldades para suprir condições básicas de alimentação e saúde.
Apesar de ter sido realizada uma análise técnica no local, que confirmou o impacto do rompimento da barragem na comunidade quilombola de Pontinha, a Vale ainda não reconhece o território como atingido pelo desastre de Brumadinho. No programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, a representante da Rede Quilombola de Belo Horizonte e Região Metropolitana, Míriam Aprígio Pereira, falou sobre a atual situação da comunidade: “mesmo com um relatório técnico confirmando os impactos, não há nenhuma ação estatal em busca de uma solução. O ocorrido afetou muitas famílias, não apenas as ribeirinhas, mas os responsáveis não conseguem ver a questão em sua totalidade, nem buscam dialogar com as comunidades adjacentes”, aponta.
A situação, que já era precária desde o último ano, se intensificou com o rompante da pandemia de covid-19 no Brasil. As atividades de subsistência das pessoas que viviam na comunidade quilombola foram prejudicadas pela crise econômica e sanitária. “Sem trabalho, não há alimento. A comunidade de Pontinha fica longe de centros urbanos, com extensão e população de um pequeno município. Se eles não conseguem atendimento no posto de saúde local, ou não se o estado não lhes garante cestas básicas, eles não têm alternativas para buscar esse apoio em outros lugares”, explica Míriam Aprígio Pereira.
‘Não há resposta do governo’
Durante entrevista para a Rádio UFMG Educativa, a representante da Rede Quilombola de Belo Horizonte e Região Metropolitana lembrou que era de responsabilidade dos governos municipais o desenvolvimento de um plano emergencial que atendesse às pessoas vulneráveis nesse período: “porém a maioria dos governos não o realizaram, e as comunidades tradicionais ficam à mercê do descaso que esse sistema apresenta com nosso grupo, historicamente no Brasil”, aponta. Míriam Aprígio Pereira ressalta a passividade dos governos frente às demandas dos quilombolas: “Nenhuma das articulações que realizamos para assegurar o mínimo de assistência aos territórios, teve qualquer resposta por parte do estado. Nossas questões não estão sendo sequer analisadas pelo governo”, lamenta.
“Nós não estamos pedindo favor a ninguém, essa assistência é um direito dos povos quilombolas contemplado pela legislação. O que clamamos é para que os representantes cumpram com essa obrigação, afinal são grupos de extrema importância para a história do Brasil. Quem resguarda a mata, quem resguarda as cabeceiras das águas, quem leva comida para muitas mesas, geralmente são esses povos tradicionais, e o que exigimos é o mínimo de respeito”, afirmou Míriam Aprígio Pereira, em entrevista ao programa Conexões.
As doações para a comunidade são recebidas por meio de uma campanha de financiamento coletivo online, até o dia 9 de julho, neste link. Todos os recursos arrecadados serão destinados ao atendimento de demandas por alimentação e itens de higiene, limpeza e máscaras. Donativos também são recolhidos presencialmente na Avenida Silva Lobo, 1995, bairro Grajaú, em Belo Horizonte.