Coral Ars Nova homenageia mulheres em concerto no Conservatório
Repertório reúne peças de compositoras do século 16 ao 20; Riane Menezes será a regente
O Ars Nova – Coral da UFMG fará concerto no dia 8 de março, em celebração ao Dia Internacional da Mulher. Sob direção da maestrina Riane Menezes, a apresentação, com início às 19h30 no Conservatório UFMG (Avenida Afonso Pena, 1.534), terá obras de compositoras que viveram em diversas épocas e países.
O repertório inclui as italianas Vittoria Aleotti e Isabela Leonarda, dos séculos 16 e 17, a alemã Fanny Mendelssohn, a americana Amy Beach e a francesa Lili Boulanger, do século 19, a brasileira Kilza Setti e a americana Libby Larsen, do século 20. O concerto terá participação do pianista Thiago André.
Riane Menezes explica que a escolha das compositoras teve o intuito de enfatizar a diversidade e valorizar mulheres que, em alguns casos, não tiveram a oportunidade, em suas épocas, de mostrar seu talento ao público. “Elas não podiam viver da música, algumas chegaram a assinar obras com nomes de homens”, comenta a regente.
Conheça o programa do concerto:
Hor che la vaga aurora (2’14)
Vittoria Aleotti (Itália, 1575-1620)
Ave Regina Caelorum (3’)
Isabella Leonarda (Itália, 1620-1704)
Gartenlieder op.3
Fanny Mendelssohn (Alemanha, 1805-1847)
Lockung (2’10)
Shöne Fremde (2’20)
Nunc dimittis (2’43)
Amy Beach (EUA, 1867-1944)
La source (3’44)
Lili Boulanger (França, 1893-1918)
Cry for peace (3’50)
Libby Larsen (EUA, 1950)
Invitation to music (5’)
Libby Larsen
Dois corais mistos
Kilza Setti (Brasil, 1932)
Obialá kôrô
Yemanjá ôtô (2’40)
Regência: Riane Menezes
Pianista: Thiago André
As compositoras
Vittoria Aleotti (1575-1620) – Aos oito anos, foi para o convento de San Vito em Ferrara, conhecido pelo alto nível da educação musical, para que pudesse desenvolver seu talento. Resolveu se tornar freira aos 14 anos. A partir daí, não se tem mais registro do nome Vittoria, e surge Rafaella, nome provavelmente adotado após Vittoria se tornar freira. Rafaella foi reconhecida como compositora, organista e professora de um grupo considerado um dos melhores da Itália.
Isabella Leonarda (1620-1704) – Entrou para o convento aos 16 anos. Foi considerada uma das compositoras mais produtivas do seu tempo, com cerca de 200 peças. Ocupou cargos importantes no convento e exerceu a função de professora de música das outras freiras. Compôs obras vocais e instrumentais, o que não era comum na época. Foi a primeira mulher a publicar sonatas.
Fanny Mendelssohn Hensel (1805-1847) – Irmã de Felix Mendelssohn, compôs desde criança e foi pianista extraordinária. Era de família rica e importante e viveu numa época em que ser musicista profissional era considerado impróprio. Após casar-se com Wilhelm Hensel, pôde tocar em reuniões privadas, em cujos repertórios incluía algumas de suas composições. Chegou a publicar obras usando o nome do irmão. No entanto, um ano antes do seu marido falecer, conseguiu, com a sua ajuda, publicar assinando com seu próprio nome. Compôs por volta de 470 obras.
Amy Beach (1867-1944) – Muito aclamada em suas performances de pianista, limitou-se, após seu casamento, a fazer dois concertos beneficentes por ano. Passou a dedicar-se mais às composições e teve obras executadas por importantes grupos e orquestras. Foi a primeira mulher a compor e publicar uma sinfonia, executada em sua estreia pela Sinfônica de Boston com grande sucesso. Depois da morte do marido, em 1910, Amy voltou a se apresentar como pianista, inclusive em turnê pela Europa, tocando muitas de suas canções. Foi considerada a melhor compositora americana de seu tempo.
Lili Boulanger (1893-1918) – Irmã da também compositora Nadia Boulanger, que considerava as composições de Lili muito superiores às dela. Lili foi a primeira mulher a ganhar o prêmio Prix de Rome. Tinha 19 anos. Aos dois anos de idade, seu talento foi percebido por Gabriel Fauré, amigo da família e futuro professor de Lili. Morreu aos 24 anos, de Doença de Crohn.
Libby Larsen (1950-) – Nascida em 1950, foi a primeira mulher a atuar como compositora residente em uma grande orquestra, a Minnesota. Ganhou vários prêmios, entre eles, um Grammy, em 1993. Tem mais de 500 obras catalogadas, entre elas 15 óperas, música orquestral e muitas peças para voz e música de câmara.
Kilza Setti (1932-) – Professora, pesquisadora, compositora e etnomusicóloga paulista. Iniciou seus estudos com o piano e mais tarde aprendeu composição com Camargo Guarnieri. Estudiosa da canção folclórica brasileira, em especial a música dos índios, compôs para música de câmara, coral, percussão e orquestra. Ganhou vários prêmios de composição. A obra que será executada no concerto recebeu menção honrosa no Concurso Brasileiro de Composição, em 1958. Cerca de 70 de suas obras estão catalogadas.
Integrantes
Sopranos: Amanda Moreira, Carolina Claret, Letícia Muniz, Mariana Piuzana, Natalie Christine (chefe de naipe) e Polliana Martins
Altos: Iolanda Camilo, Lúcia Alves Melo (chefe de naipe), Luiza Soares, Mariana Redd, Sàvio Faschét e Sônia Apcon
Tenores: Gustavo Piffer, Hendrigo Del Freitas, Lucas Damasceno, Messias de Oliveira (chefe de naipe) e Og Martins
Baixos: Carlos Morais, Giancarlos de Souza (chefe de naipe), Jonas Stofel, Samuel Goetz e Thales Mattos
A regente
Bacharel em piano e regência pela Escola de Música, Riane Menexes trabalha com corais desde 1998 e participou da execução de obras importantes, como Paixão segundo São João, de Bach, Dixit dominus, de Haendel, Missa Nelson, de Haydn, Sinfonia dos salmos, de Stravinsky, Requiem, de Mozart. Riane conduziu obras como A flauta mágica, de Mozart, Come ye sons of art, de Purcell, Gloria, de Vivaldi, e Gruss an die Heilige Nacht, de Max Bruch.
O coral
Desde 2016, quando passou a ser regido pelo maestro Lincoln Andrade, o Ars Nova tem buscado ampliar sua área de atuação e divulgar não só os compositores brasileiros, mas também novos repertórios de compositores de várias partes do mundo, com ênfase em obras ainda inéditas em território brasileiro. Segundo o diretor, o objetivo é incentivar a produção de obras para coral, além de garantir que cantores e público “pratiquem e escutem a música de nosso tempo, com suas idiossincrasias, seus contrastes e suas coerências e incoerências, mas acima de tudo, com o registro de uma leitura atual do movimento coral mundial”.