Coronavírus pode levar ao fechamento de pequenos negócios
Programa “Outra estação”, da Rádio UFMG Educativa, fala sobre as dificuldades enfrentadas por micro e pequenos empreendedores para acessar políticas públicas durante o período de pandemia
Pequenos negócios vem sendo fortemente impactados pelo coronavírus. Com as medidas de isolamento social, mais de 60% deles interromperam temporariamente as atividades e perda média no faturamento foi de 75%, segundo dados de uma pesquisa do Sebrae. Isso pode significar o fechamento definitivo desses empreendimentos se não houver auxílio por parte do Estado.
Só em Minas Gerais existem mais de 1,9 milhão de pequenos negócios, entre microempresas, pequenas empresas e microempreendedores individuais (MEIs) de acordo com o Sebrae. Mas será que o poder público tem dado a atenção a esses negócios? Os micro e pequenos empresários têm a quem recorrer neste momento difícil? O Outra estação desta semana conversou com micro e pequenos empreendedores, com especialistas e entidades ligadas ao setor para entender qual é a situação dessas empresas e como avaliam as políticas públicas destinadas a esse público.
Com dificuldades de acesso às linhas de crédito, empresários tentam se reinventar
No primeiro bloco do programa, donos de pequenos negócios falam sobre as dificuldades enfrentadas com o período de pandemia. Com portas fechadas ou atividades reduzidas devido às medidas de isolamento social necessárias para a contenção do coronavírus, eles relatam que não têm conseguido pagar as contas, reclamam das dificuldades para conseguir crédito em instituições financeiras e falam sobre os planos interrompidos por causa da queda no faturamento.
Entre os entrevistados estão Cleide Duarte, proprietária de um pequeno restaurante em Betim. Sem ter como arcar com todas as contas do estabelecimento, ela precisou demitir parte de seus funcionários. A empresária tem tentado, sem sucesso, acesso à linhas de crédito bancárias, mas enquanto a situação não se resolve investiu em um aplicativo próprio de entrega de comida para não ficar sem renda.
As vendas on-line também têm sido a aposta de Aline dos Santos, dona de uma marca de cosméticos. Ela concilia a administração de seu negócio com a ocupação de professora na rede privada de ensino e, apesar de estar sobrecarregada com tantas demandas, procura ver na pandemia uma oportunidade de investir mais no marketing da empresa. Aline cobra mais atenção do poder público aos pequenos empresários:
“Eu não quero ter que me endividar pois não sei como as coisas vão estar daqui a dois, três meses. Tive que reajustar meus preços pois agora tenho outros tipos de serviços como motoboy, correios… O Estado não me atende. Não supre a necessidade de uma população majoritariamente negra e feminina que está à margem do processo produtivo. A gente gira muito dinheiro, mas não fica na nossa mão”
Outra história contada é a da cabeleireira e maquiadora Larissa Borges. Ela é MEI e para conseguir sobreviver teve que solicitar o auxílio emergencial do Governo Federal. Com o medo do coronavírus, o número de clientes de Larissa caiu significativamente. Já com a contadora Sheyla Freitas ocorreu o oposto. Ela faz parte de um seleto grupo de pequenos empresários com aumento do faturamento durante a pandemia.
Essa parte do programa também conta com a análise da professora da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG Sibelle Diniz que falou sobre importância dos pequenos negócios para a economia do Brasil e sobre a vulnerabilidade desses empreendimentos em um contexto de crise como a atual provocada pelo coronavírus.
As ações do poder público
Segundo o professor do Departamento de Ciências Contábeis e coordenador do curso de Controladoria e Finanças da UFMG, Poueri do Carmo Mário, diferentemente dos grandes negócios, que têm mais recursos financeiros para conseguir atravessar uma crise, as micro e pequenas empresas e os microempreendedores individuais não têm reservas suficientes para parar as atividades por tanto tempo como agora na pandemia, por isso precisam de ajuda do Estado para seguirem funcionando quando toda essa crise passar.
“Se a pessoa perde a capacidade de obter receita, ela não consegue mais pagar o que tem que pagar e não vai gerar o lucro que garante o seu salário. Muitos empreendimentos vão fechar”.
A segunda parte do programa detalha algumas das ações do poder público para os pequenos negócios nos âmbitos federal, estadual e municipal e traz dicas para a sobrevivência dos pequenos negócios. Além do professor Poeuri, foram ouvidos o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) Marcelo de Souza e Silva; o presidente da Caixa Pedro Guimarães; e o gerente do Sebrae-MG Felipe Brandão:
“O pequeno negócio é fundamental para que a gente tenha uma sociedade que compartilhe melhor e distribua melhor os recursos, gerando emprego e renda”.
Rede de apoio
Uma das organizações que têm atuado para formar uma rede de apoio a negócios locais é o Colmeia - Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Economia Popular e Solidária, da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG. O objetivo do grupo é construir estratégias de pesquisa e extensão em conjunto com os atores da economia popular e solidária em Belo Horizonte e Região Metropolitana. A professora Sibelle Diniz, coordenadora do grupo, conta de que maneira o grupo está se mobilizando para fortalecer os pequenos produtores durante a pandemia.
Para saber mais
Banco Central anuncia medidas para facilitar crédito a micro, pequenas e médias empresas
Medidas da Prefeitura de BH para amparo às atividades econômicas
Página do BNDES com informações sobre crédito para pequenas empresas
Página do Sebrae com orientações para as empresas sobre como reagir ao coronavírus
Página com informações sobre as linhas de crédito do BDMG
Informações sobre a oferta de linhas de crédito do Pronampe pela Caixa
Página da Caixa com informações sobre o auxílio emergencial
Perguntas e respostas sobre o Simples Nacional
Produção
O episódio 47 do Outra estação é apresentado por Breno Benevides, com edição de Paula Alkmim. A produção é de Camila Meira e Breno Benevides. Os trabalhos técnicos são de Breno Rodrigues. A coordenação de jornalismo da Rádio UFMG Educativa é de Paula Alkmim.
O Outra estação aborda, semanalmente, um tema de interesse social. Na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM), vai ao ar às quintas-feiras, às 18h, com reprise às sextas, às 7h30. O conteúdo também está disponível nos aplicativos de podcast, como o Spotify.