Crianças podem desenvolver formas graves de Covid-19
A maior preocupação, porém, é que elas se tornem vetores do vírus para grupos mais vulneráveis, diz professora da Medicina em entrevista à Rádio UFMG Educativa
Estudos científicos já publicados indicam que a maioria das crianças infectadas pelo novo coronavírus não apresentam sintomas da Covid-19 ou apenas desenvolvem quadros leves. A afirmação foi feita pela pesquisadora e professora Cristina Alvim, do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, em entrevista concedida nesta semana ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa.
Mais da metade das crianças que apresentam sintomas tem febre e tosse, segundo pesquisas realizadas até agora. “A principal preocupação em relação às crianças é que elas sejam vetores (do novo coronavírus) para pessoas de maior risco”, afirma Cristina. Segundo ela, a possibilidade de essa população contribuir para a disseminação do vírus é uma razão para que as escolas continuem fechadas enquanto se tenta “achatar a curva”, ou seja, reduzir a velocidade de transmissão.
Por outro lado, a professora destacou que parte das crianças infectadas desenvolve quadros moderados ou graves da Covid-19, podendo até precisar de internação em unidade de terapia intensiva (UTI). O cuidado deve ser maior com aquelas que são obesas ou têm doenças crônicas, como asma. Os bebês também demandam atenção especial. “Crianças com menos de um ano não podem expressar (com precisão) o que sentem, dependem diretamente da observação de alguém. Os sinais de piora podem ser sutis. Isso vale para todas as doenças respiratórias”, informou Cristina.
Quando levar ao médico?
Para pessoas de qualquer idade, quadros mais leves de Covid-19 devem ser tratados em casa, afirma Cristina Alvim. Crianças devem ser levadas para atendimento médico se apresentarem sintomas como dor no peito e dificuldade para respirar ou para se alimentar. No caso de bebês, os sinais podem ser menos evidentes. “Há motivo de preocupação se o bebê ficar gemente, a cor (da pele) ficar esquisita, sobretudo os lábios arroxeados, ou se ele começar a não interagir, se o xixi diminuir muito”, exemplifica a professora.
Cristina Alvim recomenda que os responsáveis pelas crianças expliquem a elas a necessidade de mudar hábitos para combater o coronavírus. “O isolamento social não tem data para terminar. As crianças são capazes de entender, desde que a gente use uma linguagem atrativa, lúdica, com imagens", sugere. “Conversar sobre isso é fundamental para que se organizem, e muitas vezes elas vão ajudar os pais a dar conta desse momento.”
Ações da UFMG
Cristina Alvim também coordena o Comitê Permanente de Acompanhamento das Ações de Prevenção e Enfrentamento do Novo Coronavírus, grupo formado pela UFMG para definir e articular ações durante esse período. O comitê se reúne regularmente desde o dia 10 de março. “Temos buscado contribuir para que a população, sobretudo a mais vulnerável, e os serviços de saúde se organizem e se fortaleçam para o que virá", disse.
Entre as ações articuladas pelo comitê, a professora citou a produção e a doação de insumos essenciais para proteger os profissionais de saúde, como protetores faciais e máscaras. “Também há um investimento grande de laboratórios da UFMG para contribuir com os exames. Há uma baixa cobertura de testes para os casos suspeitos [de Covid-19]”, ressaltou.
Informações precisas e confiáveis sobre o novo coronavírus estão reunidas em site especial criado pela UFMG. A página tem uma aba específica para ajudar os adultos a orientar as crianças sobre como se protegerem, inclusive com vídeos destinados ao público infantil.