Crise entre Bolsonaro e governadores já era esperada, avalia professor do DCP
Segundo Carlos Roberto Horta, autoritarismo do presidente entra em choque com aspirações políticas dos governadores
As quedas de braço entre o presidente Jair Bolsonaro e governadores, que têm se intensificado durante o enfrentamento ao coronavírus no país, têm origem nas diferentes formações dos mandatários. Essa é a visão do cientista político Carlos Roberto Horta, professor associado do Departamento de Ciência Política da UFMG.
“Eu entendo que essa crise já era esperada, porque o presidente e os governadores vêm de culturas diferentes”, avaliou durante entrevista concedida ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta segunda-feira, 6.
Para Horta, o autoritarismo inerente ao presidente e ao grupo mais próximo dele entra em choque com as aspirações da maior parte dos governadores, que tem formação política. “Bolsonaro vem de um meio militar, onde a própria formação coloca as pessoas num viés comportamental apreendido pela lógica dos quartéis”, lembrou.
De acordo com o professor, essa experiência é distinta da formação da maioria dos governadores brasileiros. “Os governadores são civis, habituados a um comportamento político. Por mais que Bolsonaro tenha sido também deputado durante mais de 20 anos, a cultura dele acaba sendo outra. O meio com o qual ele lida mais frequentemente é outro”, analisou.
Na opinião de Carlos Roberto Horta, o que se espera de cada governador é que conheça bem o seu próprio estado e saiba que medidas são necessárias para controlar a proliferação da covid-19. “Uma sociedade, uma nação, não é um quartel”. “É possível que Bolsonaro se sinta em condições de coordenar as coisas como se se tratasse de um comando militar. Mas a realidade não é bem assim”, afirmou.