Opinião

Ensino remoto emergencial em contexto de pandemia

Para pesquisador da UFMG, estudantes, professores e pais são obrigados a se adaptarem rapidamente, e sem o devido preparo, a uma nova realidade

Pais e filhos
Pais e filhos sofrem os efeitos de uma mudança repentina: o ensino pensado para aula presenciais passa a depender de atividades remotasTeresa Sanches / UFMG

Diversas professoras e professores do Brasil inteiro estão batalhando para se adaptarem a uma nova rotina: o ensino remoto emergencial (ERI, sigla em inglês). Diante do contexto da pandemia de Covid-19, unidades escolares tiveram de ser fechadas para evitar aglomerações e o contágio pelo vírus. 

Porém, em uma conjuntura de desinformação e pouco planejamento, docentes e discentes foram obrigados a se ajustarem a uma realidade de ensino que não é mais o presencial, mas que, ao mesmo tempo, também não é o ensino a distância, pois poucas instituições, profissionais e estudantes estavam preparados para essa nova realidade.

O ensino a distância preconiza a existência de uma infraestrutura para oferta de ensino, uma rede de professores e tutores, formação docente e discente para o uso das plataformas e recursos, e o ensino remoto emergencial ora implantado em poucos casos garantiu essas condições. Por isso, a literatura recentíssima em educação denomina essa forma de ensino que estamos “criando” de ensino remoto emergencial.

Lidar com situações extremas como essa que estamos vivendo, com todas as mudanças repentinas, exige calma. Não se muda abruptamente para uma prática de atividades remotas sem prejuízos a um plano de ensino pensado para aulas presenciais. Por isso, muitas instituições de ensino, como a UFMG, têm analisado isso com muita cautela.

O ensino a distância preconiza a existência de uma infraestrutura para oferta de ensino, uma rede de professores e tutores, formação docente e discente para o uso das plataformas e recursos, e o ensino remoto emergencial ora implantado em poucos casos garantiu essas condições.

E os que não podem fugir dessa mudança abrupta? Mães e pais tornaram-se tutores educacionais dos seus filhos em diversas disciplinas, enquanto têm de cumprir sua carga horária de trabalho remoto e de cuidados familiares e domésticos que sobrecarregam sobretudo as mulheres. Os estudantes receberam materiais e mais materiais para estudar e ainda não conseguiram encontrar o “fio da meada” para se organizarem. Professoras e professores tentam desesperadamente, em pouco tempo, transformar-se em youtubers e são, por vezes, mal pagos, desvalorizados e imensamente cobrados por seus empregadores, por estudantes e seus familiares, e têm de disputar em seus próprios lares um lugar reservado para o trabalho.

Diante disso tudo, alguns esclarecimentos e dicas são valiosos:

1. Não estamos em contexto de Educação a Distância, estamos em contexto de Ensino Remoto Emergencial;
2. Não estamos em tempos de normalidade, estamos em tempos de exceção;
3. Não exija normalidade (ou que tudo ocorra normalmente) em tempos de exceção;
4. É hora de compreender que todos estamos em fase de adaptação a esses novos tempos;
5. Em vez cobrar, é hora de, com voz suave, perguntar: “Como você está?”, com o profundo intuito de ouvir uma resposta sincera, não apenas protocolar;
6. Vivemos um momento incrível para curtir mais tempo com a família, explorar novas ferramentas digitais, ler o livro que está esperando na estante, assistir a filmes e séries, fazer um diário da rotina.

Educadores, pais, mães e estudantes devem me perguntar onde fica o conteúdo do curso nisso tudo. Respondo: fica na sua experiência, no fazer sentido e conectar-se com a sua realidade e até com o momento. O conteúdo é secundário. O primordial é que você fique bem!

Joscimar Souza Silva / Doutorando em Ciência Política na UFMG