Não fossem os muitos dispositivos que nos suprem com informações sobre o horário do dia ou o mês em que estamos, teríamos de nos orientar de outra forma: olhando para o céu. O Sol, a Lua e as estrelas foram usados por muitas culturas para marcar a passagem do tempo e ordenar atividades importantes. Hoje, no entanto, trocamos a observação dos fenômenos celestes por alguns cliques na tela do celular, o que seria impossível se a humanidade não tivesse recorrido à astronomia para criar os sistemas de contagem do tempo presentes nos calendários de smartphones.

O uso de calendários como forma de orientação é tão antigo que muita gente não sabe que eles surgem justamente como espécie de interpretação daquilo que ocorre no firmamento. Se estabelecer essa associação no dia a dia já é difícil para os adultos, fica ainda mais complicado para as novas gerações, que nasceram em um mundo conectado,e pouco refletem  sobre o elo que liga os astros, as estrelas, os dias, meses e anos.

Estimular crianças a resgatar essa conexão foi a proposta do Núcleo de Astronomia do Espaço do Conhecimento ao conceber o Calendário astronômico: de solstício a solstício. Com o objeto em mãos, observar o céu e entender o que acontece por lá será muito mais simples e divertido. Além de trazer os fenômenos observáveis a olho nu, cada página propõe atividades e reflexões sobre o Universo que nos cerca.

De dezembro a dezembro
O décimo segundo mês do ano é o momento de se livrar da última página do calendário. Para a astronomia, no entanto, trata-se do início de um novo ciclo: o dia mais iluminado do ano marca a chegada de uma nova estação. Por essa razão, o Solstício de Verão, no dia 21 de dezembro, foi escolhido como ponto de partida.

Para Nathalia Fonseca, astrofísica do Espaço e uma das idealizadoras do projeto, o fenômeno é um marco importante: “Se a gente se orientasse pelo céu, saberíamos que, em dezembro, o Sol se desloca e chega ao seu ponto máximo e, a partir daí, começa a retornar. É uma ótima ferramenta para marcar a periodicidade", destaca.

Além de estar disponível no site do museu, o calendário astronômico foi distribuído para alunos e professores de escolas públicas e privadas, docentes e alunos da Universidade, visitantes do Espaço do Conhecimento UFMG, instituições do Circuito Liberdade e instituições relacionadas à astronomia.

Fernanda Carneiro, professora de Ciências em Justinópolis, distrito de Ribeirão das Neves, acredita que o material vai instigar a curiosidade dos alunos, em especial os do sexto ano do ensino fundamental. “Os meninos têm muita curiosidade sobre o Universo, mas pouca informação. O calendário vai ajudá-los a olhar o céu e entender as fases da Lua”, explica.

Em visita ao museu com sua turma de alunos, a professora falou da importância de deixar o giz e o quadro negro de lado em alguns momentos para que as crianças aprendam os conceitos na prática. “Elas ficam deslumbradas com tudo aquilo que é diferente, que vai além do livro didático”, afirma Fernanda, que, na sala de aula, com o calendário astronômico, terá a missão de fazer com que o céu, mesmo tão distante, esteja ao alcance das mãos.