Estudo da Faculdade de Medicina apoiará vigilância de óbitos por covid-19
Parceria com a Fiocruz viabilizará a realização de ensaios com amostras de interesse epidemiológico do Hospital Eduardo de Menezes
Uma pesquisa do Departamento de Anatomia Patológica e Medicina Legal (APM) da Faculdade de Medicina da UFMG apoiará a análise epidemiológica de casos de óbito por covid-19 em Minas Gerais, por meio de autópsia minimamente invasiva. Desenvolvido em parceria com a Fiocruz, por meio do Instituto René Rachou (IRR), o trabalho compreenderá ensaios histoquímicos, digitalização e análise morfológicas de amostras com interesse epidemiológico provenientes do Hospital Eduardo de Menezes (HEM), localizado na região do Barreiro, em Belo Horizonte.
Os casos serão selecionados e incluídos no estudo após admissão no Eduardo de Menezes. “As amostras biológicas, por motivos de biossegurança e infraestrutura, serão encaminhadas ao laboratório do Grupo de Imunologia de Doenças Virais do IRR para processamento e ensaios histoquímicos. Posteriormente, serão enviadas à Faculdade de Medicina para digitalização e análise morfológica”, explica o coordenador dos trabalhos pelo Departamento, o professor Marcelo Pascoal. Inicialmente, o projeto prevê estudo de 50 casos.
A autópsia minimamente invasiva é proposta como alternativa ao método convencional. Ela é feita por meio de punção para amostragem de tecido de órgãos-chave guiada por tomografia computadorizada ou ultrassonografia. No caso da covid-19, há poucos relatos de autópsias convencionais realizadas em todo o mundo, já que autoridades de saúde recomendam que o procedimento não seja feito em pacientes com suspeita ou confirmação de infecção pelo coronavírus.
As análises serão processadas pelos professores da UFMG, que contribuirão com o estabelecimento de critérios de gravidade das lesões teciduais e diagnóstico morfológico nas lâminas histológicas digitalizadas pelo equipamento de patologia digital do próprio Departamento. O serviço de imuno-histoquímica do René Rachou realizará, por sua vez, biópsia pulmonar transtorácica nas amostras.
A investigação dos óbitos é etapa essencial para assegurar a qualidade das informações do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), vinculado ao DataSUS do Ministério da Saúde, serve de suporte para gestores públicos tomarem decisões e ajuda os cientistas a compreender melhor a doença. A Faculdade de Medicina, a Fiocruz e o Centro Mineiro de Controle (CMC) da Subsecretaria de Vigilância em Saúde de Minas Gerais, à qual o Hospital Eduardo de Menezes é vinculado, mantêm parceria de longa data em estudos sobre surtos e epidemias. “Um exemplo recente foi o envolvimento na investigação dos surtos de febre amarela ocorridos em Minas Gerais entre 2017 e 2019”, comenta o professor Marcelo Pascoal.
Padronização metodológica
A pesquisa contribuirá para a padronização metodológica emergencial do projeto de organização da Rede de Serviço de Verificação de Óbito da Secretaria de Saúde de Minas Gerais. “A proposta incorporava uma inovação procedimental, a autópsia minimamente invasiva, uma reorganização classificada pela complexidade da infraestrutura disponível e a patologia digital ou telepatologia. Com a pandemia de covid-19 e as restrições para realização das autópsias clássicas ou abertas, a proposta foi ajustada e otimizada para operacionalização em curtíssimo prazo”, explica Pascoal.
Até então, Minas Gerais não contava com um serviço de verificação de óbitos. Segundo o 15º boletim epidemiológico Coe-Covid-19, do Ministério da Saúde, existem 43 serviços com essa finalidade habilitados no Brasil, 14 deles na região Nordeste, 13 na Sudeste, 10 na Centro-Oeste, quatro na região Sul e dois na região Norte. Os serviços são referência para atendimento à população das regiões das cidades-sedes e alcançam quase 2,6 mil municípios.
Esse tipo de serviço é importante para conferir precisão às causas de mortes no país. O Brasil notifica aproximadamente 1,3 milhão de óbitos por ano, dos quais cerca de 100 mil apresentam, inicialmente, causa básica indefinida. Depois da investigação pelas equipes locais de vigilância, cerca de 30 mil passam a ter suas causas devidamente especificadas.