Estudo revela que metade das mulheres no Brasil passou a cuidar de alguém na pandemia
Pesquisa da startup Gênero e Número, em parceria com a Sempreviva Organização Feminista, demonstrou ainda que impacto é maior sobre mulheres que vivem em zonas rurais e mulheres negras
Metade das mulheres brasileiras passou a cuidar de alguém na pandemia, revela pesquisa realizada pela startup de jornalismo de dados Gênero e Número, em parceria com a Sempreviva Organização Feminista. Mais de 2,6 mil mulheres brasileiras foram ouvidas, entre os meses de abril e maio, por meio de questionário on-line. Dessas, 41% afirmam estar trabalhando mais durante a quarentena.
"Os números da pesquisa estão de acordo com o que já ocorria no Brasil, mesmo antes da pandemia. Mesmo com a entrada cada vez maior de mulheres no mercado de trabalho, essa tarefa do cuidado e das relações familiares segue, com sobrecarga, sobre as mulheres", explicou Natália Leão, coordenadora de dados da pesquisa O trabalho e a vida das mulheres na pandemia, em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta segunda-feira, 3.
Em relação ao cuidado com outras pessoas na pandemia, o resultado médio de 50% é ligeiramente maior ou menor conforme a raça: 52% entre as mulheres negras, 46% entre as brancas e 50% entre as indígenas ou amarelas. O estudo também indica que a sobrecarga é maior para mulheres negras, que têm menos suporte nas tarefas de cuidado.
Outro dado que chama a atenção é que 58% das mulheres desempregadas também são negras. Além disso, a maior parcela das mulheres que seguiu trabalhando durante a pandemia com manutenção de salários é de mulheres brancas.
“Quando olhamos para os recortes raciais, a gente nota que mulheres brancas muitas vezes conseguem até ter um suporte financeiro, contratar outras mulheres para exercer esse tipo de tarefa delegada às mulheres, coisa que outros grupos não têm”, afirmou Natália Leão.
Nas zonas rurais, o percentual de mulheres que passaram a exercer tarefas de cuidado chega a 62%. Nesses locais, também é maior o percentual de mulheres vulneráveis à violência doméstica: 11,7%, enquanto a média geral foi de 8%.