Pesquisa e Inovação

Expansão do agronegócio na Amazônia e no Cerrado gera perdas econômicas, revela pesquisa

Trabalho vencedor do Prêmio Capes de Tese 2023 na área de Ciências Ambientais é tema do novo episódio do ‘Aqui tem ciência’, da Rádio UFMG Educativa

Imagem aérea de gado e plantação de soja em área desmatada próxima a Porto Velho (RO)
Imagem aérea de plantação de soja em área desmatada próxima a Porto Velho (RO) Foto: Bruno Kelly | Amazônia Real (CC BY 2.0 DEED)

O agronegócio vive uma contradição: ao mesmo tempo que o setor é um dos mais afetados pelas mudanças climáticas, é também o principal responsável pelas alterações no clima.

Nesse cenário, uma pesquisa realizada no Programa de Pós-graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais, vinculado ao Instituto de Geociências (IGC) da UFMG, demonstrou como as mudanças climáticas regionais, associadas ao desmatamento, afetam a produtividade da soja, do milho e de pastagens na Amazônia e no Cerrado brasileiros. O trabalho venceu o Prêmio Capes de Tese 2023, concedido pela Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, na área de Ciências Ambientais.

“A agricultura no Brasil é responsável por grande parte do desmatamento, tanto do Cerrado quanto da Amazônia, que foram os dois focos da minha pesquisa. Na Amazônia, mais de 90% das áreas desmatadas são destinadas à agricultura, e nós sabemos que as maiores emissões de gases de efeito estufa brasileiras são advindas das mudanças do uso do solo”, afirma o autor da tese de doutorado, Argemiro Teixeira Leite Filho.

Argemiro Teixeira: mais de 90% das áreas desmatadas da Amazônia são destinadas à agricultura
Argemiro Teixeira: estimativa de perdas econômicas como estratégia 
Foto: Luci Sallum

No primeiro capítulo da tese, publicado como artigo científico na revista Nature, foram avaliadas a perda de vegetação nativa e a redução das chuvas no sul da Amazônia Brasileira, com base nos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Agência Espacial dos Estados Unidos (Nasa), do período de 1999 a 2019. A constatação foi que a quantidade de chuva anual caiu à metade ao longo desses 20 anos em regiões onde a agropecuária ocupou até 60% de áreas antes cobertas por florestas. 

O autor afirma que estimar as perdas econômicas decorrentes da expansão da atividade agropecuária na Amazônia e no Cerrado foi uma das estratégias adotadas na pesquisa para chamar a atenção para o problema. Estima-se que a mudança no regime das chuvas possa causar perda econômica anual de 1 bilhão de dólares na produção de soja e de carne. No Cerrado, as perdas estimadas no cultivo de grãos em decorrência de eventos extremos do clima são da ordem de 1,7 bilhão de dólares anuais.

Saiba mais sobre a pesquisa no novo episódio do Aqui tem ciência:


Raio-x da pesquisa

Título: Interações entre desmatamento, mudanças climáticas e produção agrícola no Cerrado e na Amazônia brasileira

O que é: Tese de doutorado que demonstra como mudanças climáticas regionais associadas ao desmatamento afetam a produtividade da soja, do milho e de pastagens na Amazônia e no Cerrado brasileiros.

Autor: Argemiro Teixeira Leite Filho

Programa de pós-graduação: Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais

Orientador: Britaldo Silveira Soares Filho

Coorientador: Ubirajara de Oliveira

Financiamento: CNPq

O episódio 167 do Aqui tem ciência tem produção e apresentação de Alessandra Ribeiro e trabalhos técnicos de Cláudio Zazá. O programa é uma pílula radiofônica sobre estudos realizados na UFMG e abrange todas as áreas do conhecimento. A cada semana, a equipe da Rádio UFMG Educativa apresenta os resultados de uma pesquisa desenvolvida na Universidade. O programa vai ao ar na frequência 104,5 FM e na página da emissora, às segundas, às 11h, com reprises às sextas, às 20h, e fica disponível também em aplicativos de podcast, como o Spotify.