'Traumas vivenciados na América Latina nos obrigam a reivindicar direitos elementares'
Exposição do professor Álvaro Rico encerrou a Conferência Internacional das Humanidades
Os países sul-americanos têm vivenciado, já há muitos anos, a alternância entre governos democráticos e regimes autoritários. Diante desse contexto, o filósofo político Álvaro Rico, da Universidade da República (UdelaR), do Uruguai, na palestra de encerramento da 2ª Conferência Internacional das Humanidades, provocou o público com o seguinte questionamento: “Considerando o resultado acumulado das lutas por direitos, bem como o efeito do tempo transcorrido a partir dessas conquistas, podemos dizer que elas estão consolidadas e tendem a ser ampliadas? Ou, pelo contrário, seguem comprometidas pela expansão das tendências reacionárias, antifeministas e xenófobas?”, problematizou.
Com o tema Avances y retrocesos en la materia de derechos humanos en la región, a exposição foi realizada na noite desta quarta-feira, na Faculdade de Ciências Econômicas (Face).
Segundo Álvaro Rico, que é também presidente do Serviço de Relações Internacionais da UdelaR, avançaram no Uruguai, nos últimos anos, mudanças na legislação que favoreceram os direitos progressistas, entre os quais ele enumerou a legalização da maconha, a regulamentação da cannabis para uso medicinal e a interrupção voluntária da gravidez.
Entre as mais recentes mudanças na conjuntura política do continente, o filósofo mencionou a troca do mandato presidencial na Argentina, ocorrida nesta semana, “encerrando a experiência liberal do presidente Mauricio Macri, que prometia a solução para os problemas da Argentina”. “O novo presidente, Alberto Fernández, representa a retomada do poder pela esquerda. O centro de seu discurso é a recuperação dos direitos humanos e o combate à fome no país”, comentou Rico.
O professor uruguaio dissertou também sobre os efeitos das ditaduras na América do Sul, cuja compreensão, segundo ele, é imprescindível para que se entenda o movimento dos direitos humanos no continente. “A afronta à integridade física das pessoas, materializada em castigos físicos e psicológicos, e outros traumas vivenciados pelos povos da América Latina, nos obrigaram a reivindicar os direitos humanos mais elementares, como à vida e à paz”, disse.
Álvaro Rico é professor titular no Centro de Estudos Interdisciplinares da Faculdade de Ciências da Educação da UdelaR. Doutor pela Universidade Estatal de Moscou (1985), desenvolveu pesquisas sobre a história política e a história recente do Uruguai. Publicou vários estudos sobre a ditadura civil-militar e a crise da democracia; golpes de Estado e greves gerais; os presos desaparecidos; ideologia, discursos, memórias e imaginários sociais.