Gêmeos conjugados nascidos e separados no Hospital das Clínicas recebem alta
Realizada em dezembro pelo SUS, cirurgia foi considerada um sucesso
A quarta-feira, dia 13, foi de comemoração muito particular no Hospital das Clínicas da UFMG: os gêmeos conjugados Bryan e Yago, de dois meses, receberam alta depois de terem se submetido com sucesso a uma complexa e rara cirurgia de separação, a primeira do gênero realizada no HC.
Filhos de Yorrana Carvalho e César Sampaio Carvalho, de São João del-Rei, os gêmeos nasceram no dia 4 de novembro com a rara condição de gemelaridade conjugada do tipo onfalópagos ("gêmeos siameses”), caso que ocorre apenas com cerca de 1/50.000 e 1/300.000 dos nascimentos. Bryan e Yago nasceram unidos pelo abdômen, tórax e fígado – além de prematuros, com 32 semanas.
“O plano inicial era operá-los aos três meses de idade, situação em que haveria menos risco. Contudo, um dos gêmeos apresentou uma infecção e obstrução no intestino, e foi necessário antecipar essa programação e fazer o procedimento já no 41º dia de vida dos meninos, ocasião em que cada um tinha o peso estimado de pouco mais de dois quilos”, explica Bernardo Almeida, cirurgião pediátrico do HC-UFMG, um dos profissionais envolvidos na cirurgia, realizada no mês passado.
Trabalho multidisciplinar
Uma cirurgia desse porte demanda um grande trabalho multidisciplinar coordenado, envolvendo várias equipes, explica Almeida. Trata-se de um processo que remonta ainda à etapa do pré-natal, muito antes da cirurgia, em que já trabalhavam as equipes de obstetrícia e medicina fetal e de neonatologia do hospital, acompanhando de perto a evolução da mãe.
“Antes da cirurgia, são feitos vários exames para avaliar a situação anatômica das crianças. No caso do Bryan e do Yago, eles tinham dois fígados independentes, mas unidos em grande parte. Havia também a suspeita de fusão do pericárdio, que, felizmente, não se confirmou”, explica.
Do procedimento participaram as equipes de cirurgia pediátrica, de cirurgia do fígado e vias biliares e de cirurgia cardiovascular, para avaliar a questão do pericárdio – além de dois anestesistas que trabalharam simultaneamente em duas frentes distintas.
“Houve ainda o importantíssimo trabalho da equipe de enfermagem no cuidado pós-operatório, com o delicado trabalho de curativo na ferida resultante do procedimento de fechamento da parede do corpo”, conta o cirurgião, que também é professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina.
“No pós-operatório, os dois meninos saíram-se muito bem. Agora serão acompanhados de perto pela equipe do hospital”, explica o cirurgião. Para os pais dos garotos, o momento é de alegria. “Não tem sensação melhor do que a de ir embora para casa com os dois nos braços e saudáveis. Eu agradeço a Deus por me permitir passar por tudo isso”, diz Yorrana, que soube estar grávida em março, bem no início da pandemia de covid-19.
Por fim, Bernardo Almeida não se esquece do modelo de atendimento, público e universal, que viabilizou o procedimento, o Sistema Único de Saúde. “É muito importante termos, no Brasil, a possibilidade de realizar uma cirurgia complexa como essa pelo SUS, em um hospital público, gratuitamente”, finaliza o cirurgião.