Institucional

Gestores destacam impacto da pós-graduação e indicam caminhos para ampliar sua relevância

Webinar reuniu presidentes do CNPq e da Fapemig e diretor de Avaliação da Capes

Evaldo Vilela
Evaldo Vilela: plano nacional de desenvolvimento baseado na ciência e tecnologiaRaphaella Dias | UFMG

A pós-graduação brasileira consolidou-se nas últimas décadas, é reconhecida internacionalmente e transformou-se num pilar da ciência brasileira. A área, no entanto, também enfrenta desafios: precisa ampliar sua relevância, atender às necessidades impostas pelos novos tempos e integrar-se a um projeto de desenvolvimento nacional.

Essas reflexões foram feitas por três gestores do sistema de ciência e tecnologia do Brasil que participaram do seminário O impacto social da pós-graduação, realizado nesta sexta-feira, 23, durante a cerimônia de anúncio dos vencedores do Grande Prêmio UFMG de Teses. Por meio de videoconferência, o evento, mediado pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida, reuniu o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Evaldo Vilela, o diretor de Avaliação da Capes, Flávio Anastácio Camargo, e o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), Paulo Sérgio Lacerda Beirão.

Em sua fala, Evaldo Vilela lembrou que a pós-graduação e o próprio sistema de ciência e inovação brasileiro, construídos “a duras penas”, alcançaram reconhecimento internacional, mas hoje precisam desenvolver outras estratégias para enfrentar as necessidades do presente e do futuro. “Não se pode fazer o trabalho de hoje com os métodos de ontem”, disse ele, citando uma frase de Jack Welch, executivo norte-americano que dirigiu a General Electric.

No caso da pesquisa, Vilela considera que os cientistas devem trabalhar em redes multidisciplinares comprometidas com resultados para desafios reais. “Essas redes devem ser focadas nas demandas da sociedade, e isso inclui até mesmo a pesquisa básica”, salientou Vilela. Como exemplo dessa orientação, o presidente do CNPq citou o trabalho do professor Marcos Mares Guia, do ICB, que desenvolveu estudos com enzimas que resultaram na criação de uma empresa de produção de insulina, a Biobrás, em Montes Claros, em meados da década de 1970.

Evaldo Vilela também defendeu a formulação de um plano nacional de desenvolvimento baseado em ciência e tecnologia como forma de promover avanços. E, citando a boa experiência da UFMG com a Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), órgão responsável pela gestão de patentes e pelo licenciamento científico na Universidade, sustentou que o conhecimento produzido na academia deve “transbordar e chegar à cadeia de inovação”. “Precisamos de uma visão de futuro que indique para onde vamos caminhar com a nossa pesquisa”, avaliou.

Flávio Camargo:
Flávio Camargo: redução de assimetrias regionaisRaphaella Dias | UFMG

Avaliação multidimensional
Nomeado há um mês para o cargo de diretor de Avaliação da Capes, o professor Flávio Anastácio Camargo enfrenta o desafio de concluir o processo de avaliação trienal da pós-graduação brasileira, cujos resultados devem ser publicados em seis meses, e de promover mudanças no próprio modelo de avaliação em 2021.  

“Nossa missão é implantar um modelo multidimensional”, anunciou Camargo. Além da formação de pessoal e da pesquisa, que já são aspectos consolidados, a Capes pretende reforçar os processos de transferência de conhecimento e inovação, o impacto da pós-graduação na sociedade e a internacionalização. “É muito importante continuar trabalhando pela redução de assimetrias regionais”, ele também defendeu, exibindo, em sua apresentação, um levantamento que mostra que a pós-graduação experimentou expressivo crescimento nas regiões Norte e Nordeste do Brasil nos últimos 10 anos.

Para Flávio Anastácio, investir na formação de doutores ainda é prioridade, considerando que a proporção brasileira de 11 doutores por 100 mil habitantes ainda é baixa na comparação com os padrões internacionais.

Beirão:
Beirão: lítio, inteligência artificial e biocombustíveisRaphaella Dias | UFMG

Confluência com a economia
Em vídeo gravado para o seminário, o professor Paulo Beirão fez breve apresentação do sistema de ciência, tecnologia e inovação de Minas Gerais – que qualificou como “privilegiado e robusto” – e lamentou a suspensão, por circunstâncias financeiras, de alguns programas de fomento de bolsas da Fapemig (pós-doutorado, iniciação científica júnior, iniciação científica e tecnológica, pesquisador visitante e especialista visitante).

Apesar das dificuldades, Beirão indicou projetos em que a confluência da pesquisa com a economia poderá incrementar o desenvolvimento de Minas Gerais. Ele citou, por exemplo, a perspectiva de formação de uma cadeia do lítio em Minas Gerais, que possui reservas significativas do mineral no Vale do Jequitinhonha. Além disso, uma fábrica de células de bateria de lítio-enxofre deverá ser instalada em Juiz de Fora. “Identificamos programas de pós-graduação que poderão se envolver com a mineração sustentável. Menos de 2% do material extraído é lítio, então há muito subproduto que precisa de um destino adequado”, afirmou.

A formação de redes de inteligência artificial nas áreas da saúde, da agricultura e das cidades inteligentes, a preparação de educadores e jovens para lidar com os desafios das pandemias – Beirão destacou que outras crises sanitárias poderão emergir em um horizonte não muito distante – e o desenvolvimento de fontes de energias sustentáveis, com base, por exemplo, na exploração de oleaginosas são outras frentes que deverão exigir o suporte da capacidade de pesquisa instalada em Minas Gerais. “O impacto da pesquisa e pós-graduação é grande, mas pode ser ainda maior. Uma agência de fomento tem exatamente o papel de articular essas forças para potencializar os seus benefícios”, avaliou o presidente da Fapemig, que é professor do ICB.

A gravação do webinar está disponível no canal da Coordenadoria de Assuntos Comunitários no YouTube.

Flávio de Almeida