Institucional

Heloiza Schor, do ICEx, é a nova emérita da UFMG

Professora teve atuação destacada na consolidação do Departamento de Química e na área de transferência de tecnologia

Heloiza Schor com o diploma de emérito entre o diretor do ICEx, Francisco Dutenhefner, a reitora Sandra Goulart Almeida e o professor Rubén Dario Sinisterra
Heloiza Schor com o diploma de emérito entre o diretor do ICEx, Francisco Dutenhefner, a reitora Sandra Goulart Almeida e o professor Rubén Dario Sinisterra Foca Lisboa / UFMG

Uma mulher determinada, com pensamento e ação à frente do seu tempo, entusiasta da educação e da ciência e grande responsável pelo prestígio acadêmico de que desfruta o Departamento de Química do ICEx. Essas são algumas das várias virtudes atribuídas por amigos e colegas de trabalho à professora Heloiza Helena Ribeiro Schor, que recebeu, na noite desta quinta-feira, 4 de abril, o título de professora emérita da UFMG.

A cerimônia de outorga, realizada no CAD3, no campus Pampulha, reuniu a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, o vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, o diretor do ICEx, Francisco Dutenhefner, colegas, amigos e familiares da professora, “cuja trajetória se confunde com a desta instituição”, conforme lembrou a reitora da UFMG.

Heloiza foi saudada por dois amigos de longa data – os professores Rubén Dario Sinisterra, atual chefe do Departamento de Química, e Mauro Mendes Braga. “Ela certamente é uma das pessoas que ajudaram a construir, de forma institucional, a história desse departamento”, afirmou Rubén Dario, que conheceu a professora em 1990 durante seminário, realizado na USP, sobre o uso do laser na química. “Desde aquele momento, fiquei impressionado com o rigor e a profundidade científica com que ela se debruça sobre os assuntos que estuda”, disse o professor.

O discurso de Rubén foi entremeado por projeções de fotografias que ilustram momentos importantes na vida da professora, no Brasil e no exterior. Em uma das imagens, datada de maio de 1982, Heloiza aparece diante do primeiro terminal do Departamento de Química – um modelo de tela verde com linha de comando – ligado ao computador central do Centro de Computação (Cecom).

Rubén Dario: pioneirismo
Rubén Dario: pioneirismo Foca Lisboa / UFMG

Trajetórias paralelas
O chefe do Departamento de Química associou a trajetória da nova emérita com o próprio avanço da ciência. “O início de Heloiza na química [ela se formara em 1969], por exemplo, se entrelaça com o nascimento da terceira revolução industrial e com o surgimento de um novo tipo de energia cujo potencial superava as antecessoras: a nuclear”, registrou o professor.

Rubén Dario destacou o pioneirismo da professora Heloíza nos estudos do laser na química quântica, base de sua tese doutorado defendida em 1978 na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. “Seu trabalho é um dos mais citados na área”, afirmou o professor, mencionando, ainda, seu envolvimento com a causa da igualdade de gênero. “Durante sua estada nos Estados Unidos, ela participou do grande movimento feminista na defesa dos direitos da mulher”, afirmou.

Após a aposentadoria, em 2006, Heloíza passou a se dedicar a temas ligados à proteção científica, à transferência de tecnologia, à inovação e ao empreendedorismo, lembrou Rubén Dario, que também tem atuação destacada nessa área. A professora coordenou o escritório de avaliação e transferência de tecnologias da CTIT, treinou empreendedores, ajudou a fundar uma spin-off, o Labfar, hoje instalado no BH-TEC, e criou uma empresa de consultoria na área de propriedade intelectual, negociação e inovação.

Mauro Braga: afeto e dedicação
Mauro Braga: limites ultrapassadosFoca Lisboa / UFMG

Festa e mais dedicação
Em discurso marcado por reflexões sobre a natureza das universidades (“instituições conservadoras e inovadoras ao mesmo tempo”) e sobre as dificuldades que elas enfrentam na atualidade (“diversos grupos sociais e instâncias de poder as veem como desnecessárias e até como inimigas da sociedade”), o professor Mauro Mendes Braga fez uma análise da “simbologia” que cerca o título de professor emérito. Segundo ele, a distinção indica que a atuação do homenageado “ultrapassou os limites de seu departamento, ganhando uma dimensão universitária e um reconhecimento para além dos muros da academia”.

Em seguida, Braga fez uma saudação afetuosa à amiga: “Cara Heloiza. A noite é de festa, toda sua. Desfrute-a. Você merece”.  Por outro lado, acrescentou que a honraria amplia as responsabilidades de quem a recebe. “Lamento informar que o que se deseja mesmo é que você se dedique mais à nossa querida UFMG”, cobrou ele, arrancando risos da plateia.

A exemplo de Rubén Dario, o professor Mauro Braga enalteceu as qualidades acadêmicas de Heloiza Schor e a sua disposição para assumir tarefas na gestão acadêmica – sob sua coordenação a pós-graduação em Química alcançou o conceito 7 na avaliação da Capes referente ao triênio 1998-2000. Ele também relatou um episódio aparentemente menor na trajetória da professora que refletiu, em sua opinião, o seu afeto e dedicação à instituição. Braga coordenava o colegiado da graduação em Química por ocasião da implantação do curso noturno, e esse processo sofreu dificuldades em razão da falta de recursos e das resistências internas. “Em uma das crises que enfrentamos, e que poderia ter sido das grandes, quem nos socorreu foi Heloiza, voluntariando-se para ministrar aulas no turno da noite e acalmando os ânimos”, contou o professor. Sua dedicação foi reconhecida pelos principais beneficiados por seu gesto. Heloiza foi escolhida como paraninfa de quatro turmas de graduandos e homenageada por outras duas.

Heloiza Schor: comunicação com a sociedade
Heloiza Schor: comunicação com a sociedade Foca Lisboa / UFMG

Homenagens
Heloísa Schor agradeceu as palavras elogiosas dos dois amigos e brincou: “Mal me reconheci nelas”. Seu discurso fez referências aos anos iniciais vividos no Departamento de Química, no fim da década de 1960, marcados pela repressão da ditadura. “A UFMG era politicamente bastante atuante. Nosso reitor, Aluísio Pimenta, resistia bravamente às investidas do governo militar, que perseguia estudantes e professores”, recordou.

O pronunciamento foi marcado, sobretudo, pelas homenagens que prestou a professores que contribuíram para sua formação. Ruy Magnane Machado, por exemplo, presente à cerimônia desta quinta, recebeu menção especial. Ele foi orientador da pesquisa de mestrado de Heloiza na área de radioquímica e viabilizou seu retorno à UFMG como professora colaboradora tão longo defendeu o doutorado nos EUA.

José Israel Vargas, a quem Heloiza chamou de “mentor”, teve participação decisiva em sua defesa de mestrado, possibilitando que ela viajasse em seguida para iniciar o doutorado nos Estados Unidos. Manoel Siqueira, Herbert Magalhães e Delba Figueiredo foram outros mestres a quem a nova emérita dirigiu palavras de agradecimento. “Com Delba, aprendi a gostar de ministrar aulas de laboratório”, afirmou.

Ao fim de seu pronunciamento, Heloiza Schor fez um balanço de sua atuação acadêmica, que, de alguma forma, também se aplica a todos que lidam com ciência. “Ainda nos falta eficácia na comunicação de nossas ações à sociedade e talvez um maior engajamento dos laboratórios de pesquisa no ensino de licenciatura”, disse ela, destacando ainda a necessidade de capacitar os professores para o ensino integrado e multidisciplinar de ciências no contexto das novas bases curriculares: “É preciso incluir atividades que ensinem os alunos a pensar e a resolver os problemas empregando o método científico. Isso deverá ajudá-los a ver melhor como a ciência é relevante para suas vidas”.

Sandra Goulart Almeida: projeto de Estado
Sandra Goulart Almeida: projeto de Estado Foca Lisboa / UFMG

Orgulho
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida encerrou a homenagem lembrando que fazer parte de uma instituição como a UFMG é motivo de orgulho, mas em casos especiais, como o da professora Heloiza Schor, “é a instituição que se orgulha de abrigar aqueles que não apenas se dedicam com esmero à tarefa que lhes foi atribuída, mas que nos honra com sua dedicação e perseverança em prol de um fazer público baseado no bem da instituição, do estado e do país”.

Ao analisar a trajetória da nova emérita, Sandra Almeida destacou que ela, ao deixar o país para cursar doutorado, integrou um grande projeto de Estado (“e não de governo”) para consolidar a pós-graduação e a pesquisa brasileira. “E nossa homenageada soube retribuir o investimento que o Estado fez em sua formação acadêmica”, sublinhou.

A reitora da UFMG também fez alusão ao atual momento de dificuldades vivido pela instituição e destacou a união da comunidade acadêmica na defesa da educação, da ciência e do desenvolvimento regional. “É muito emocionante participar desse processo de defesa da Fapemig, da ciência e da tecnologia”, disse ela.

Inspirada em Darcy Ribeiro – “nenhuma sociedade brasileira pode viver sem universidades” e “a coisa mais importante para os brasileiros é inventar o país que queremos” –, Sandra Goulart Almeida fez um chamado à resistência. “Cabe, pois, diante deste cenário desafiador, a todos e a cada um de nós, resistir a tudo que possa ameaçar nossa sólida instituição e os valores que a todos nos são tão caros”, propôs a reitora.