Saúde

Hiperexposição ao ambiente virtual pode provocar exaustão mental

Fenômeno é analisado por especialistas em entrevistas à TV UFMG

As restrições de circulação impostas pela crise sanitária deflagrada pelo novo coronavírus exponenciaram não só o consumo de informações, mas também o uso das plataformas digitais na vida cotidiana. Com a adoção do distanciamento social como uma das principais medidas para contenção da pandemia, as ferramentas de videoconferência tornaram-se essenciais para o trabalho e o ensino remotos e para o contato com familiares e amigos. Somada ao uso – já antes significativo – das redes sociais e à necessidade de manter-se informado a respeito da pandemia, a adoção desses recursos pode causar exaustão mental.

A psiquiatra e professora do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG Tatiana Mourão lembra que as consequências do excesso de exposição ao ambiente virtual para a saúde mental não são um tema recente. No entanto, a hiperexposição causada pela pandemia pode trazer consequências também em médio e longo prazo. "A saúde mental será o grande problema, não apenas em 2021, mas também nos próximos anos. As queixas mais frequentes são ansiedade, insônia, falta de concentração, diminuição de autoestima, aspectos que, somados, preenchem critérios para diagnósticos de transtornos mentais”, alerta.  

A realidade imposta pela pandemia demandou uma mudança abrupta de hábitos, estilo de vida e formas de socialização. Tatiana Mourão argumenta que a velocidade com que as pessoas foram obrigadas a se adaptar ao novo contexto também é um fator estressor. “Precisamos de tempo para processar certas mudanças. Precisamos de movimento, de mudança de ambiente e, de repente, nos vimos confinados”, lembra.

Economia da atenção
Outro fator importante é que o consumo de informação e de entretenimento no ambiente virtual ocupa um papel tão importante na vida cotidiana que a disputa passa a ser mais pela atenção do que pelo tempo dedicado a cada atividade. A avaliação é do professor da Escola de Belas Artes e pesquisador do Rest – Estudos de Redes Sociotécnicas da UFMG – André Goes Mintz. "Muitas vezes consumimos vários produtos concomitantemente, e a atenção se torna algo escasso. ‘Economia da atenção’ é o nome que se dá a essa disputa", afirma.

As plataformas de redes sociais funcionam hoje como um cruzamento de serviços, informação, entretenimento e comunicação interpessoal. Por meio delas, as pessoas fazem compras, contratam serviços, consomem notícias, interagem com amigos, assistem a filmes e ouvem música – em alguns casos, é possível fazer tudo isso em uma única ambiência. “As mídias sociais cumprem múltiplas funções na nossa vida, e, durante a pandemia, isso se intensificou. No contexto do confinamento, essas práticas passaram a ser ainda mais mediadas pelas tecnologias digitais, principalmente por essas plataformas, que hoje ocupam espaço ainda maior na nossa vida social”, diz André Mintz.

Equipe: Vitória Fonseca (produção), Yves Vieira (reportagem), Otávio Zonatto (edição de imagens) e Renata Valentim (edição de conteúdo)