Instituto Guaicuy destaca questões vividas pelos atingidos do rompimento em Brumadinho
Três anos depois da tragédia envolvendo a barragem da Mina do Córrego do Feijão, culpados ainda não foram responsabilizados
Nesta terça-feira, 25 de janeiro, completam-se três anos do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, operada pela mineradora Vale, em Brumadinho. O desastre causou a morte de 270 pessoas e é marcado como o maior acidente de trabalho da história nacional em perda de vidas humanas, assim como um dos maiores desastres ambientais causados pela mineração no país. O Rio Paraopeba, até então responsável pelo abastecimento de um terço da Região Metropolitana de Belo Horizonte, foi contaminado pelos rejeitos da barragem, impactando o ecossistema, o abastecimento público de água dos municípios da região e o sustento de milhares de pessoas que dependiam economicamente do rio.
Desde o desastre, o Instituto Guaicuy, com sede em Belo Horizonte, tem se dedicado a acompanhar o processo de reparação de algumas das áreas afetadas. Nesta semana, em que são lembrados os três anos do desastre, o Instituto publicou um documento destacando as principais questões vividas pelos atingidos ao longo da bacia do Rio Paraopeba. Entre elas, a insegurança em relação à qualidade das águas e do pescado, a dificuldade de acesso a medidas emergenciais de apoio à população e dúvidas sobre os trâmites do processo judicial contra a mineradora Vale.
Até o momento, ninguém foi judicialmente condenado pelo desastre. Em novembro do ano passado, a Polícia Federal pediu o indiciamento de 19 pessoas, entre elas diretores, gerentes, consultores e engenheiros da Vale e da empresa Tuv Sud, que assinou um laudo atestando a estabilidade da barragem de Brumadinho antes do desastre. Nesta terça-feira, 25, o programa Conexões convidou a coordenadora da equipe de Direitos dos Atingidos do Instituto Guaicuy, Paula Constante, para falar mais sobre a realidade dos atingidos e prestar homenagem às vítimas dessa tragédia.
Além de falar da situação atual da população, a entrevistada explicou que a Vale não está cumprindo com algumas decisões acordadas para prestar assistência aos moradores atingidos. O Instituto Guaicuy enviou mais de 350 ofícios denunciando irregularidades no cumprimento de medidas emergenciais que seriam obrigações da empresa, destacadas pela coordenadora durante a conversa. Outra questão ressaltada por Constante foi a importância da indenização, entre outras medidas de reparação integral, e o andamento do processo.
Também foi abordada a segurança das águas do Rio Paraopeba, cuja qualidade vem sendo estudada e avaliada pelo próprio Guaicuy, e o sentimento de impunidade de toda a população atingida diante da falta de responsabilização de culpados por parte do poder judiciário. “Esses três anos do rompimento mostram que até hoje esse crime vem se perpetuando na vida das pessoas, destruindo sonhos, modos de vida, qualidade de vida. Para que a justiça realmente seja feita, a gente tem que lutar tanto pela reparação integral quanto pela não repetição”, defendeu Constante.
Ouça a entrevista completa no Soundcloud.
Mais informações sobre o trabalho realizado pelo Instituto Guaicuy e as questões vividas pelos atingidos pelo rompimento podem ser encontradas no site do instituto. É importante lembrar que, dentre as 270 mortes confirmadas causadas pelo rompimento, seis pessoas continuam desaparecidas. As buscas pelos corpos pelo Corpo de Bombeiros continuam.
Produção: Carlos Ortega, sob orientação de Luiza Glória
Publicação: Enaile Almeida, sob orientação de Hugo Rafael