Institucional

Investimento em C&T deve ser contínuo e sustentável, defende pró-reitor de Pesquisa

De acordo com o professor Mario Campos, corte de recursos no MCTI indica cenário preocupante para o futuro do Brasil

Laboratório do Nupad que integra rede de testagem da UFMG para a covid-19
Laboratório do Nupad, que integra a rede de testagem da UFMG para a covid-19: cortes de recursos pode comprometer a manutenção da infraestrutura laboratorial das instituições de pesquisaArquivo Nupad

O investimento em ciência e tecnologia é uma das molas propulsoras do desenvolvimento de toda e qualquer nação e deve ser realizado de forma sustentável e com visão de longo prazo, como política de Estado, destaca o pró-reitor de Pesquisa da UFMG, Mario Montenegro Campos. “É como uma planta: é necessário regar e adubar para que produza bons frutos constantemente”, compara.

Em sua avaliação, a pesquisa científica está alicerçada no tripé pessoas- infraestrutura-insumos, que precisa ser sustentado de forma contínua e previsível, por meio da alocação de recursos e de investimentos. Os recursos concedidos pelas agências de fomento à pesquisa propiciam a dedicação dos pesquisadores e estudantes à investigação científica, a manutenção e atualização da infraestrutura de laboratórios e de centros de pesquisa e a aquisição de insumos, muitos importados, que, juntos, funcionam como o sustentáculo desse tripé. A manutenção regular dessa estrutura é que proporciona a colheita permanente de frutos no campo da pesquisa. “Há pesquisas que são desenvolvidas durante anos e até mesmo décadas, e a interrupção em qualquer uma dessas bases abala esse tripé e pode levar à perda de trabalhos que vêm sendo realizados ao longo do tempo”, explica Mario Campos.

Mario Campos:
Mario Campos: interrupção abala tripéFoca Lisboa / UFMG

Caso mantido, o mais recente corte pode colocar o país na contramão do cenário da pesquisa científica global. Enquanto o investimento mundial em desenvolvimento científico e tecnológico cresceu cerca de 20% nos últimos anos, no Brasil, ele tem decrescido na mesma proporção. Esse aporte, que chegou a aproximadamente R$ 14 bilhões em 2015, vem sendo reduzido, ano a ano, até alcançar o atual patamar, de R$ 4,4 bilhões.

O fomento à pesquisa no Brasil não alcança 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB), contrariando a tendência global, conforme o Relatório de Ciência da Unesco. Na Alemanha, iniciativas que visam ao desenvolvimento científico e tecnológico têm aportes equivalentes a 3,09% do PIB; no Japão, essa relação é de 3,26%, na Coreia do Sul, de 4,53%, em Israel, de 4,95%, e nos Estados Unidos, de 2,84%.

Essa tendência de desinvestimento em ciência e tecnologia no Brasil ainda provoca a “fuga de cérebros”. Sem perspectivas, pesquisadores, sobretudo os mais jovens, mudam-se para centros avançados do exterior onde terão condições de desenvolver seus estudos. Conforme alerta o pró-reitor de Pesquisa da UFMG, a conjugação de baixo investimento com êxodo de pesquisadores indica um futuro preocupante para a ciência e tecnologia no país. “Pesquisa se faz em longo prazo. Os avanços que temos hoje resultam de trabalhos que vêm sendo desenvolvidos há cinco, dez anos. Mais um recuo nos investimentos em pesquisa no país pode não ser percebido de imediato, mas impactará o desenvolvimento tecnológico e também econômico e social do Brasil daqui a cinco anos”, alerta.

Centro Nacional de Vacinas
O corte anunciado neste mês atinge, de imediato e de forma severa, o Edital Universal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Lançada em agosto deste ano, a chamada, que totaliza R$ 250 milhões, vale-se de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), duramente afetado pelo corte.

Assim como o CNPq, outras agências de fomento e novos investimentos previstos em ciência e tecnologia, sobretudo originários do FNDCT, serão afetados pelo corte. O Centro Nacional de Vacinas (CN Vacinas), parceria da UFMG com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e com o governo estadual, está entre esses aportes previstos e que podem ser  atingidos.

Se o projeto do CN Vacinas não for concretizado, o país corre o risco de se manter dependente da importação de testes de diagnóstico e de imunizantes para o enfrentamento de diferentes doenças.

Live
Nesta sexta-feira, dia 22, a partir das 16h, o professor Mario Campos e o presidente da Fapemig, Paulo Sérgio Lacerda Beirão, discutem os efeitos da permanente redução de investimentos da ciência na live Boletim UFMG. A conversa será transmitida pelo perfil da UFMG no Instagram.

Isaura Mourão