Jornada vai relacionar arqueologia a tragédia e retórica gregas
Pesquisadores falarão sobre as escavações que revelam santuário dedicado a Apolo, na Grécia
Os conceitos-chave apolíneo e dionisíaco, utilizados por Nietzsche em O nascimento da tragédia grega, estão ligados à retórica na medida em que o filósofo defende, na obra, que Eurípides, ao aderir ao socratismo estético e utilizar-se da retórica, promoveu a destruição da tragédia. Conhecer melhor Apolo e Dionísio, por meio das investigações arqueológicas sobre rituais e cultos ligados a essas divindades, pode ajudar a compreender melhor a crítica do filósofo alemão, bem como a razão de seu ataque à retórica e a repercussão de tal crítica no século 20.
Essa será uma das abordagens da próxima edição das Jornadas de Retórica e Argumentação, na segunda, 30, às 18h30, no Auditório 2003 da Faculdade de Letras. Os arqueólogos Yannos Kourayos, do Museu Arqueológico de Paros (Grécia), e Erica Angliker, da Universidade de Zurique (Suíça), farão palestras, respectivamente, sobre o Santuário de Apolo em Paros e sobre Imagens de/para Dioniso: estudo de terracotas em santuários cicládicos. O evento será moderado pelo arqueólogo e historiador Fabio Vergara, da Universidade Federal de Pelotas.
Situada no arquipélago das Cicládicas, no mar Egeu, a ilha de Paros teve seu apogeu nos períodos arcaico e clássico. Há 35 anos, muitas escavações têm sido conduzidas por toda a região da ilha. Yannos Kourayos comanda a pesquisa na pequena ilha de Despotikó, onde foi descoberto um grande santuário dedicado ao deus Apolo. Com a brasileira Érica Angliker, Kourayos falará de suas atividades há 20 anos na reconstrução do santuário a Apolo.
A descoberta do santuário no sítio de Mandra redesenhou significativamente a paisagem dos lugares sagrados nas Cicládicas, uma vez que, por seu tamanho, sua riqueza e sua organização espacial, o santuário em Despotikó não tem rival no âmbito das cicládicas (com exceção dos santuários de Delos).
Estratégia geopolítica
Instituído e mantido pela polis de Paros, o santuário a Apolo em Despotikó parece fazer parte da estratégia geopolítica da cidade no período arcaico. Seu surgimento certamente está vinculado ao fato de que, dada a competição com a vizinha Naxos e com Atenas (que tinha grande influência em Delos), a pujante cidade de Paros precisava demarcar próprio território e reforçar sua influência na região cicládica.
Até agora, 20 edificações já foram desenterradas em Despotikó. O coração do santuário era o témenos, a área sagrada, em que se destacavam, com sua colunata de mármore, o próprio templo e o refeitório (hestiatórion). A mais importante evidência do culto veio da sala A1, onde se descobriram sob o chão pavimentado mais de 600 objetos de origem cicládica, coríntia, anatólio-jônica, cipriota e egípcia. Além disso, já foram encontradas mais de 75 partes de esculturas de alta qualidade artística.
Acadêmicos e outros interessados em participar de escavações em Despotikó devem contatar a professora Maria Cecília Miranda Coelho (ceciliamiranda2ufmg.br), do Departamento de Filosofia da UFMG, que coordena as viagens pedagógicas, ao lado de Érica Angliker e Yannos Kourayos.
As Jornadas de retórica e argumentação são promovidas pelo Grupo de Pesquisa Retórica e Argumentação. Não há necessidade de inscrição prévia.