Laboratório da UFMG vira referência na certificação de combustíveis de aviação
Parceria com a Codemge permitiu ao LEC, vinculado ao Departamento de Química, avançar no campo das análises; representantes da Companhia visitaram instalações nesta quinta
Referência há mais de 20 anos na área de análise de combustíveis utilizados no setor automotivo, o Laboratório de Ensaio de Combustíveis da UFMG (LEC) tem ampliado seu portfólio, expandindo sua atuação para análise de combustíveis de aviação. O trabalho registrou significativo avanço a partir de 2018, quando foi firmada parceria com a Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge) para ações de adequação e ampliação do laboratório. O acordo de cooperação propiciou investimentos para transformar o LEC na primeira instalação brasileira de certificação de combustíveis e biocombustíveis de aviação.
O LEC tem agora infraestrutura e capital intelectual para realizar análises de querosene, bioquerosene e gasolina de aviação. Na tarde desta quinta-feira, 12, representantes da Codemge conheceram a estrutura do laboratório e os resultados dos investimentos em infraestrutura e capacitação.
O LEC foi criado no ano 2000 para auxiliar a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e o Ministério Público a combater a adulteração de combustíveis e crimes fiscais. O início dos trabalhos com foco no setor aéreo ocorreu em 2016, lembra a coordenadora Vânya Pasa, professora do Departamento de Química da UFMG. “Naquele ano, o mundo estava discutindo, de maneira mais frequente, as tecnologias de aviação. Em meio a esse debate, fomos procurados pela Boeing [multinacional que é referência na área aeroespacial e líder mundial na produção de aviões], que fez um aporte financeiro”, rememora.
Após a interrupção da parceria, o LEC atraiu a atenção da Codemge, que, segundo Vânya Pasa, percebeu que “era estratégico investir no laboratório e capacitá-lo” para atuar na análise e certificação de combustíveis e biocombustíveis de aviação. Desde então, com investimento de cerca de US$ 1 milhão (aportados pela Companhia e pelo governo estadual, por meio da Fapemig), o LEC tem concentrado esforços na ampliação de equipamentos e competência técnica, a fim de oferecer infraestrutura que já é referência na área, na América do Sul.
A tarefa do Laboratório, segundo a coordenadora, é complexa, pois requer equipamentos específicos e uma capacitação bastante aprimorada. “Só o bioquerosene tem hoje sete rotas [formas de produção] diferentes homologadas pela ASTM [órgão estadunidense de normalização]. Por isso, essas análises exigem vários testes. É um trabalho bem caro e cuidadoso. É preciso analisar inúmeros parâmetros, não é só ligar o aparelho e colocar a amostra lá”, explica.
Embora alguns equipamentos ainda não tenham sido instalados – é o caso do reator contínuo, que vai possibilitar aos pesquisadores estudar processos de produção dos combustíveis de aviação –, o laboratório já está “praticamente pronto”, segundo Vânya Pasa. “Hoje, atendemos aeroportos e também a Petrobras. Recebemos amostras de Jericoacoara, Bagé, São Paulo, Bahia, Alagoas, Maceió, de todas as partes do país. Tanto de combustível fóssil, quanto do renovável. Somos o único laboratório com essa expertise e competência técnica, e o nosso trabalho é de vanguarda em toda a América do Sul, considerando universidades e também a iniciativa privada”, destaca.
Credibilidade
Além de estar à disposição do país, com os avanços propiciados pela parceria, o LEC também poderá contribuir para a produção dos combustíveis sustentáveis de aviação (SAFs) em grande escala no Brasil. “O país tem plenas condições de aumentar essa produção, porque a nossa história está muito ligada ao desenvolvimento de biocombustíveis. Acreditamos que, nos próximos anos, o Brasil terá grandes projetos nessa área, e o LEC poderá auxiliar tanto no suporte analítico quanto no técnico”, projeta Vânya Pasa.
O LEC atua hoje como laboratório independente acreditado pela Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro para ensaios (sob o CRL 0243), o que garante a excelência nos trabalhos que realiza e a credibilidade internacional. “As próprias empresas podem montar seus laboratórios, mas contar com uma estrutura acreditada pelo Inmetro depende de um processo rigoroso, que leva de quatro a cinco anos. Com a acreditação, é possível atingir um padrão superior de qualidade, porque a fiscalização do Inmetro garante o resultado”, salienta a coordenadora do LEC.
O laboratório trabalha com 50% dos ensaios acreditados pelo Inmetro. “Nossa meta é entregar 100% dos ensaios acreditados em, no máximo, dois anos. É preciso ter padrões, atender às exigências do Inmetro, e isso custa caro. Por essa razão, são tão importantes aportes financeiros como o que temos recebido da Codemge”, reforça Vânya Pasa.