Livro narra trajetórias e desafios de escravos libertos em Minas Gerais, no século 18
Em entrevista ao programa Conexões, Douglas Lima, autor do livro, falou sobre sua pesquisa de mestrado que resultou na publicação
Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-graduação em História da UFMG resultou no livro Libertos, patronos e tabeliães: a escrita da escravidão e da liberdade em alforrias notariais, de autoria de Douglas Lima, professor de história e doutorando em História na UFMG. O título é resultado de sua pesquisa de mestrado, onde o pesquisador analisa as trajetórias e os desafios de ex-escravos libertos em Minas Gerais durante a primeira parte do século 18, mais especificamente na antiga Comarca do Rio das Velhas, região de Sabará.
A pesquisa foi desenvolvida por meio de documentos manuscritos, entre cartas e escrituras de alforria, que estão no arquivo documental do Museu do Ouro/Casa Borba Gato, em Sabará. Na obra, Douglas Lima também reflete sobre as implicações dos eventos relatados e sobre como essa história ainda repercute nos dias de hoje.
Em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta sexta-feira, 4, Douglas Lima contou que a ideia da pesquisa de mestrado nasceu ainda durante sua graduação em História, na UFMG. "Ainda no segundo período, tive a oportunidade de fazer uma iniciação científica. A pesquisa começa com meu primeiro contato com manuscritos do século 18", explicou. As cartas e escrituras de alforria manuscritas consultadas e transcritas, que deram base ao projeto e ao livro, estão resguardadas no arquivo documental do Museu do Ouro/Casa Borba Gato, em Sabará. "Grande parte dessa documentação está disponível para pesquisadores. As pessoas têm uma visão equivocada que a documentação sobre o período colonial e a escravidão se perdeu, o que não é verdade. Uma parte muito limitada dessa documentação é que se perdeu com o tempo", afirmou.
Segundo o pesquisador, é uma tarefa urgente entender esse período da nossa história. “A formação do nosso povo passa muito pela experiência da escravidão e também pela experiência de liberdade que existia durante o período de escravidão. O conceito de liberdade era muito diferente do conceito que nós entendemos hoje. Por muitos anos, eu não sabia se estava estudando a história da escravidão ou da liberdade”, explicou.
Um aspecto importante em relação aos documentos de alforria evidenciado no livro e na pesquisa é o fato de que a liberdade na lei nem sempre significava liberdade na prática: algumas pessoas ex-escravizadas continuavam com os patronos. Há também os casos daqueles que tinham autonomia suficiente e não dependiam dos patronos depois da alforria. "A gente encontra uma variabilidade muito grande de possibilidades e caminhos possíveis. Não à toa, na dissertação, eu usei a palavra polissemia, que consegue explicar todos esses caminhos possíveis para a conquista da liberdade", disse.