Mostra Córregos Vivos discute afetos e ocupação territorial da cidade
A mostra é uma realização do grupo de pesquisa interdisciplinar Terra Comum, da UEMG e UFMG,
De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte, hoje são mais de mil nascentes cadastradas na capital mineira. A bacia hidrográfica do Cercadinho é uma delas, que inclui os bairros Buritis, Estrela Dalva, Estoril, Havaí, Palmeiras, Marajó e parte dos bairros Belvedere e Olhos D’água. O Cercadinho e os seus afluentes são parte do Ribeirão Arrudas, que corta o município no sentido Oeste/Leste. A ocupação territorial da cidade traçou as vias escondendo, canalizando, tamponando e violentando os mananciais da região, projetando um traçado ortogonal que não leva em consideração relevo nem recursos hídricos. Questionando esse modelo de cidade, surgiu o projeto de pesquisa Córregos Vivos. Ele foi desenvolvido pelo Terra Comum, grupo de pesquisa em arte e arquitetura da UEMG (Escola Guignard) e UFMG (Escola de Arquitetura), que busca outros modos de ocupar e usar a terra, o ar e o subsolo, para além do princípio estrutural da propriedade pública ou privada.
O grupo conta com uma equipe interdisciplinar constituída por artistas, arquitetos, antropólogas, ambientalistas, professores, historiadores, bióloga e moradores da região e da cidade que atuam nos eixos: histórias locais, nascentes e matas, jardins viventes, morar na bacia, economia dos afetos e pinturas de territórios. O processo articulou memória, experiências e imaginários, e teve como resultado a produção de um filme com atores da região, a exposição de pinturas, a produção da Rádio Cercadinho e de um banco comunitário de desenvolvimento. Uma das integrantes desse grupo é Maria Vaz. Ela é artista visual, mestranda em artes pela UFMG e integra o grupo temático de discussões “Histórias Locais”.
O Grupo Histórias Locais passou por um processo para escolher o bairro de atuação, oMarajó e começar a trabalhar na região. “Primeiramente, fizemos uma pesquisa da região, de modo geral. Decidimos pelo bairro Marajó por duas razões. Primeiro, pela conversa com o Hermenegildo, que foi uma indicação das participantes. Ele era um morador da região e foi contando outras histórias, apresentando outras pessoas para o grupo. E foi aí que decidimos ir até lá, conhecemos outras histórias, e assim decidimos ficar”, relembra Maria Vaz. A partir da escolha do local, algumas fotografias de acervo pessoal do Hermenegildo e algumas feitas pelo grupo no local foram utilizadas para trabalhar com sobreposição de imagens como forma de pensar a passagem do tempo e a influência do passado no presente. “A ideia não era pensar num tempo linear, mas em um tempo que se sobrepõe, que se mescla. Assim, criamos algumas imagens fantasmagóricas para dar essa ideia”, complementou a integrante do grupo.
Outra frente de trabalho do Grupo História Locais foi a criação da Rádio Cercadinho. O historiador Augusto Borges estendeu sua pesquisa histórica a respeito das águas e bacias na cidade desde a sua fundação para essa produção em aúdio. “Foi uma pesquisa de história micro com história macro, e ao ouvir essas histórias locais podemos perceber a história da cidade”, complementa a artista visual.
Algumas das memórias e histórias contadas pelos moradores envolvem a região quando ainda era somente a fazenda de Aggeo Pio Sobrinho, e como surgiu o cercado que se tornou o Cercadinho, além da memória das lavadeiras do córrego. Todas essas memórias são ilustradas pela voz das próprias pessoas que expressam suas trocas e vivências com o local.
Visite a Mostra Córregos Vivos. Ouça também todos os episódios da Rádio Cercadinho.
Moradores da região da Bacia do Cercadinho que quiserem mandar fotos ou depoimentos, entre em contato pelo Instagram.
A artista visual Maria Vaz participa também, com Bárbara Lissa, do Duo Paisagens Móveis. A dupla trabalhou com o Ribeirão Arrudas em uma dimensão poética e ficcional. Saiba mais na página do Instagram do duo.
Produção: Luíza Glória
Publicação: Isadora Oliveira, sob orientação de Luíza Glória