Mulheres e Reforma da Previdência
Pesquisadoras da UFMG avaliam propostas e suas possíveis consequências
Pesquisadoras da UFMG avaliam que a reforma da Previdência que tramita no Congresso impactará na vida dos brasileiros e, principalmente, da população feminina que atualmente é quase metade da população economicamente ativa. A proposta do governo é aumentar de 60 para 62 anos a idade para que as mulheres urbanas alcancem a aposentadoria. No caso das rurais, elas terão que trabalhar cinco anos mais até os 60. Para os homens, em comparação, as idades mínimas continuam as mesmas (65 nas cidades e 60 no campo). Se a PEC 06/2019 for aprovada como está, o tempo mínimo de contribuição passará de 15 para 20 anos, sem distinção entre sexos.
Pesquisadoras do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (NEPEM/UFMG) e do Centro Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) avaliam os impactos das mudanças no sistema previdenciário brasileiro na vida das mulheres.
Na avaliação da coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (NEPEM/UFMG), Marlise Matos, as mulheres pobres, negras e rurais serão as mais prejudicadas com as mudanças no sistema previdenciário brasileiro apresentadas pelo governo federal. Ao destacar as desigualdades de gênero no mundo do trabalho, dentro e fora de casa, alerta que “daqui a 20 anos, o país terá uma legião de velhas e empobrecidas. As políticas de Estado não darão conta de garantir um mínimo de sobrevivência com dignidade para este segmento”, finaliza.
Segundo a cientista política, a proposta de aumentar a idade mínima para 62 anos e o tempo de contribuição para 40 anos desconsidera a dupla jornada das mulheres e a inserção mais precária delas no mundo do trabalho.
Segundo a professora do Departamento de Demografia, Simone Wajman a maioria das mulheres se aposentam por idade, cujo valor do benefício é menor, porque tem menor participação no tempo de contribuição. Ao contrário dos homens. De olho na pirâmide populacional, a demógrafa aponta que “ com o mercado desaquecido, a queda da fecundidade e o envelhecimento da população, o déficit da Previdência será aprofundado a longo prazo com o estreitamento da capacidade contributiva .”
Inserção desigual de gêneros
As mulheres recebem apenas 77,5% do rendimento pago ao sexo masculino no Brasil de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o mesmo órgão, elas se dedicaram, em média, 22 horas por semana com afazeres domésticos e cuidados de pessoas em 2018. Quase o dobro do que os homens gastaram com as mesmas tarefas. Outra pesquisa aponta que quase metade delas
(48%) são demitidas após um ano após o parto. O dado é da Fundação Getúlio Vargas que, em 2017, entrevistou 247 mil mulheres na faixa etária entre 25 e 35 anos.
Entrevistadas:
Marlise Matos - Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher/UFMG
Simone Wajman – Prof. Depto. Demografia – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional/UFMG
Equipe: Soraya Fideles (produção e reportagem), Antônio Soares, Cássio de Jesus e Ravik Gomes (imagens), Ruleandson do Carmo (edição de conteúdo), Marcia Botelho (edição de imagens) e Bruna Araújo (videografismo).