Nescon abre nova etapa de pesquisa nacional sobre cobertura vacinal
Estudo iniciado em 2021 busca analisar as causas da queda dos indicadores de imunização, com ênfase nos fenômenos da hesitação e da desinformação
O Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon) da Faculdade de Medicina da UFMG vai coletar novos dados para a Pesquisa nacional sobre cobertura vacinal, seus múltiplos determinantes e as ações de imunização nos territórios municipais brasileiros, realizada em parceria com o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). O objetivo é analisar a situação atual, em comparação com dois anos atrás, e identificar os principais desafios para a efetividade da política e das ações de imunização no país.
Chamada de terceira fase, essa nova rodada prevê a realização de levantamentos para comparar os dois períodos (2021 e 2022). “Queremos avançar na produção do conhecimento e levar o debate sobre a hesitação vacinal para o público. Entendemos que é um momento oportuno para reforçar a agenda junto aos agentes responsáveis pela imunização, por meio do Conasems”, afirma a socióloga Daisy Maria Xavier, pesquisadora do Nescon.
Na primeira fase, realizada em 2021, com abrangência nacional, foram analisados os principais indicadores de cobertura vacinal e entrevistados profissionais de saúde e a população das cidades brasileiras. Coordenadores de imunização de 4.690 municípios (84,2% do total) responderam a um amplo questionário sobre a estruturação das ações de vacinação.
Além do levantamento estatístico feito na etapa inaugural, a pesquisa nacional realizou entrevistas e trabalhou com grupos focais para conhecer a percepção da população sobre as vacinas e dos profissionais de saúde sobre os motivos que podem influenciar a decisão das pessoas de se imunizarem. Essa metodologia será retomada na próxima fase do estudo.
A pesquisa incluiu ainda o monitoramento de plataformas digitais de discussões on-line sobre vacinas no Brasil. “O acompanhamento foi muito importante para a compreensão de fluxos de opinião pública e de posicionamentos singulares”, destaca Daisy Xavier. Segundo a pesquisadora, essa análise viabilizou produção de comunicação mais efetiva para coibir conteúdos que possam acirrar a hesitação vacinal.
Na segunda etapa, desenvolvida em 2022, foram promovidas oficinas de capacitação com agentes dos municípios participantes da pesquisa e criou-se o Painel dos Indicadores de Imunização, que apresenta um panorama desses indicadores por diferentes dimensões, cobrindo o período de 2010 a 2022.
A experiência das oficinas, com formulação de estratégias para o enfrentamento dos problemas de imunização nos municípios, foi apresentada pelos participantes das oficinas no 37º Congresso Conasems, realizado em Goiânia, de 16 a 19 julho deste ano.
O fenômeno da hesitação se dá quando as pessoas atrasam o calendário vacinal ou não se vacinam, explica Daisy Xavier. “Percebemos que atualmente existe uma diversidade de fatores que influenciam a decisão das pessoas no momento de se vacinarem. Esses fatores precisam ser considerados pelos gestores de saúde para planejar as políticas de imunização de forma integrada”, ela defende.
Comunicação para combater a insegurança
Segundo o estudo, as pessoas continuam acreditando na importância da vacinação. Para 98% dos entrevistados, as vacinas são importantes para a própria saúde, enquanto 92% afirmam que todas os imunizantes recomendados pelo SUS são benéficos.
A desinformação em redes sociais e a baixa percepção de risco estão ligadas ao fenômeno da hesitação vacinal no país. Quase 20% acreditam que não precisam de vacinas para doenças que não são mais comuns, 72,8% dos entrevistados confirmaram ter medo de efeitos colaterais, enquanto 37,6% afirmaram ter medo de agulha. E 24% disseram que consultam fontes das redes sociais antes de tomarem a decisão sobre as vacinas.
Para Daisy Xavier, a saúde pública enfrentará desafios complexos, e a comunicação pode ser grande aliada dos gestores de saúde. Além de questões de logística, estrutura de armazenamento, capacitação dos profissionais e fortalecimento da atenção primária, a comunicação com as famílias é ponto sensível identificado pelos pesquisadores.
“Precisamos passar a mensagem e combater a desinformação. As pessoas não estão resistentes à vacina. Elas estão inseguras. A desinformação exerce papel preocupante, ela contamina e gera desconfiança. Uma política de imunização articulada precisa contar com a atenção de toda a sociedade”, destaca a especialista.
O grupo responsável pelo estudo vê, agora, uma oportunidade de integrar os entes federativos, movimentos sociais e lideranças diversas no esforço pela imunização coletiva, tomando como referencial de apoio uma pesquisa de grande fôlego e excelência científica para retomar os altos índices históricos de cobertura vacinal do país.