Nilma Lino Gomes: 'formações transversais favorecem a hiperconexão de saberes'
Na abertura do evento que celebra os dez anos das FTs, gestores relembraram a preocupação da UFMG em oferecer uma formação cidadã, inclusiva e capaz de transcender o saber hegemônico
A professora emérita da UFMG Nilma Lino Gomes define a formação transversal (FT) como uma ferramenta capaz de superar, ao mesmo tempo, a hierarquização dos saberes e a sua simples horizontalidade, ou seja, seu compartilhamento restrito entre pares e semelhantes. “A transversalidade refere-se, portanto, ao diálogo e à hiperconexão ente diferentes áreas do conhecimento”, disse ela, durante a conferência de abertura do evento que celebra os primeiros dez anos das FTs na UFMG, realizada na noite desta segunda-feira, no auditório da Reitoria.
Para a professora, que é titular da Faculdade de Educação (FaE), essa interconexão sobrepõe a tradicional “fragmentação disciplinar”. “Em vez de tratarmos os saberes de forma isolada, propomos um olhar mais contextualizado. No ambiente universitário, essa prática pode revolucionar a maneira como formamos profissionais e cidadãos”, acrescentou.
O processo de formação no nível superior, em seu entendimento, deve refletir a complexidade do mundo e proporcionar uma visão mais ampla e crítica da sociedade. “Não dá para passar pelos bancos da universidade com uma formação acrítica”, provocou.
Ruptura e utopia
Na mesa de abertura do evento, a reitora Sandra Goulart definiu a incorporação dos conhecimentos transversais no currículo acadêmico como uma “ruptura”. “É importante fazer intervenções que levem a mudanças, e as FTs fizeram exatamente esse movimento, num momento em que estávamos muito presos à disciplinaridade. Vieram de uma utopia, de um momento transgressor, de uma interrupção na produção de conhecimento, para nos levar a pensar outras formas de trabalhar.”
Em seu pronunciamento, o pró-reitor de Graduação, Bruno Otávio Soares Teixeira, lembrou que a criação do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT), há 25 anos, foi importante para que a ideia de convergência entre áreas do conhecimento se desdobrasse nas FTs. “Institucionalizou-se um espaço para trazer discussões que jamais poderiam ser exclusivas de apenas uma das unidades acadêmicas”, observou.
A professora Benigna Maria de Oliveira, que foi pró-reitora de Graduação entre 2018 e 2022, lembrou que, entre os idealizadores das FTs, havia grande preocupação a respeito da sua continuidade ao longo dos anos. “Sua permanência por uma década é motivo de muito orgulho. Isso reforça o compromisso da Universidade com a pluralidade de saberes, a diversidade, a inclusão e a oportunidade de dar a nossos estudantes mais do que uma formação técnica: uma formação cidadã”, declarou.
O professor Ricardo Takahashi, que foi pró-reitor de Graduação entre 2014 e 2018, pontuou que a UFMG demonstra, de modo pioneiro, que “as travessias entre campos de saberes podem se materializar num compromisso de formação capaz de incluir na trajetória dos estudantes, de maneira sistemática, um espaço para aprender além dos conhecimentos convencionais”. “Acredito que não haja outro exemplo de instituição que tenha desenvolvido experimento semelhante a esse”, conjecturou.
A coordenadora do Colegiado Especial das Formações Transversais (CEFT), professora Terezinha Cristina Rocha, sublinhou que as FTs ampliam a visão de saberes que foram historicamente excluídos do ensino formal. Também participaram da mesa de abertura o vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, e o professor José Alfredo Debortoli, subcoordenador do CEFT.
O evento que marca os dez anos das FTs prossegue até quinta-feira, dia 10, com palestras, performances, mesas-redondas, apresentações e uma exposição. Conheça a programação.