Novo emérito, Márcio Quintão impulsionou ensino de física
Professor do ICEx contribuiu com a reforma universitária e exerceu diversos cargos em cinco décadas de carreira na UFMG
Desde que ingressou como aluno no curso de Física da antiga Faculdade de Filosofia, em 1951, Márcio Quintão Moreno ligou, definitivamente, sua vida à UFMG. A partir de então, 48 anos de docência (1956-2004), além daqueles em que permaneceu como voluntário após a aposentadoria, compuseram uma trajetória marcada pelo incessante empenho para a construção do que são hoje o Departamento de Física e o Instituto de Ciências Exatas (Icex).
Detalhes dessa história foram lembrados na noite desta quinta-feira, 21, na solenidade em que Quintão recebeu o título de Professor Emérito, em reconhecimento pelos relevantes serviços prestados ao magistério, à pesquisa e à gestão acadêmica na UFMG.
Ele foi saudado pelo também emérito Ramayana Gazzinelli, com quem mantém “amizade sexagenária” e que creditou ao homenageado participação fundamental na luta pela modernização do ensino de física, com ênfase no ensino experimental, e vigoroso empenho pela reforma universitária “desencadeada no início dos anos 60 pelo então reitor Aluísio Pimenta”.
“Márcio é um verdadeiro scholar. Além de ser um leitor diligente e minucioso, escreve bem e expõe com clareza. Durante toda a sua vida se interessou por história da ciência e estudou-a em profundidade", destacou Ramayana, que ressaltou ainda a empatia do homenageado com a matéria ensinada e com seus alunos e suas qualidades pessoais – amoroso com os familiares e amigo leal.
A reitora Sandra Goulart Almeida recordou sua convivência pessoal com Quintão, que data do final da década de 1990, quando ela chefiava o Departamento do então Departamento de Letras Anglo-germânicas na Faculdade de Letias e ele, o gabinete do reitor Francisco César de Sá Barreto.
“Percorri a memória daqueles anos difíceis – que em muito nos recordam os de hoje – e deparei com o legado de uma figura institucional singular, com rara capacidade de agregação, combinando princípios firmes com paciência para transmiti-los e tolerância exemplar com os limites que todos temos”, disse ela.
A reitora relembrou ainda a serenidade de Quintão “na condução do trato da coisa pública e das pessoas e no enfrentamento de dificuldades e adversidades”, o que o tornava “uma pessoa especial, um porto seguro para todos os que o rodeavam”.
Ex-aluno de Quintão, o atual chefe do Departamento de Física, Rogério Paniago, falou de sua enorme admiração pelo mestre, que sempre demonstrou preocupação com a formação integral e humanista dos alunos, transmitindo conhecimentos que iam além das ciências exatas. “Ele foi um dos pilares para que o Departamento se tornasse um centro de referência em pesquisa, ensino e extensão em física e em áreas correlatas", afirmou Paniago.
O diretor do ICEx, Antônio Flávio de Carvalho Alcântara, disse que Márcio Quintão é uma pessoa especial, cuja história se confunde com a da UFMG e a do Instituto, pois durante os longos anos de dedicação exclusiva foi figura central em sua organização e estruturação, tanto acadêmica quanto administrativa.
Lembrou ainda que Quintão participou, em 2010, como convidado da comissão que reescreveu e modernizou o Regimento da Universidade. “São pessoas desse calibre que a Instituição busca de volta para o seu convívio, reconhecendo a sua importância como um dos responsáveis pelo que a UFMG é hoje”, disse.
Memória
Se história da ciência é uma das paixões de Márcio Quintão, seu discurso na solenidade em que foi homenageado deixou patente que a história da UFMG tem lugar reservado em sua memória e em seu coração. Ele falou das “instalações acanhadas e da aparelhagem muito limitada” que encontrou ao tornar-se professor e das alterações paulatinas, sobretudo a partir de 1962, quando a Faculdade de Filosofia mudou-se para prédio próprio, ganhando condições para o estabelecimento do ensino experimental.
Também fez referência ao movimento nacional que ganhou grande vigor na década de 1960 em prol da modernização do ensino superior e que culminou com a aprovação, pelo Congresso, em 1968, das leis que estruturaram as universidades públicas em novas bases. “A outra vertente de minha carreira acadêmica está diretamente relacionada à reforma de nossa Universidade”, disse Quintão.
O novo emérito da UFMG fez questão de citar nomes de reitores, docentes e servidoras técnico-administrativas que tiveram papel relevante na história da UFMG e, em particular, no Departamento de Física. E, fazendo referência ao físico Isaac Newton, expressou gratidão a amigos como Francisco Assis Magalhães Gomes, José Israel Vargas e Ramayana Gazzinelli, “gigantes" nos ombros de quem se apoiou.
Trajetória
Márcio Quintão Moreno nasceu em Barbacena (MG), em 12 de agosto de 1931. Graduado em Física pela UFMG, tem especialização em Espectroscopia e Física Atômica, pela Universidade de Turim (Itália). Foi pró-reitor de Planejamento na gestão do reitor Celso de Vasconcellos Pinheiro, pró-reitor de Administração na gestão do reitor José Henrique Santos e chefe de Gabinete do reitor Francisco César de Sá Barreto. Também colaborou com as gestões dos reitores Vanessa Guimarães Pinto e Ronaldo Tadêu Pena.
Com a instalação do Instituto de Ciências Exatas (ICEx), em dezembro de 1968, Quintão foi designado pelo diretor, Francisco Magalhães Gomes, chefe interino do novo Departamento de Física, função que exerceu por dois anos.
Em vídeo produzido pela TV UFMG, Márcio Quintão rememora os primeiros anos do curso de Física. Assista:
Compuseram a mesa oficial da sessão solene e pública da Congregação do ICEx a reitora Sandra Goulart Almeida, o homenageado, os professores Ramayanna Gazzinelli, Antônio Flávio de Carvalho Alcântara e Rogério Paniago e os ex-reitores da UFMG Franciso César de Sá Barreto (gestão 1998-2002), Ronaldo Pena (gestão 2006-2010) e Clélio Campolina (gestão 2010-2014).