Pesquisa e Inovação

Pesquisa identifica padrões de violência contra idosos no Brasil

Com base em dados do sistema de vigilância, estudo da Escola de Enfermagem mostra que a maioria das mulheres é agredida em casa, enquanto a violência sofrida pelos homens ocorre nas ruas

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Na maioria dos casos, as mulheres são vítimas de espancamentoPixabay

Os padrões de violência contra os idosos do Brasil são demarcados pelas diferenças de gênero. Enquanto as mulheres costumam ser agredidas em casa por familiar ou companheiro, os homens são violentados nas ruas, por um estranho, sob efeito de bebida alcoólica.

Essa é uma das conclusões da dissertação de mestrado Padrões de violência contra idosos: análise pelo Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes, defendida por Fabiana Martins Dias no Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFMG, em setembro do ano passado. A pesquisadora caracterizou esses padrões com base nos atendimentos em serviços de urgência e emergência e nas notificações de violência contra idosos no Brasil.

De acordo com Fabiana, o aumento da violência está relacionado aos fatores decorrentes das desigualdades sociais e de saúde, que predominam no Brasil. “Essas circunstâncias são agravadas pelo impacto da pandemia”, ressalta. Sua percepção é corroborada pelo serviço Disque 100, do Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos, que registrou 41.547 casos de violência contra idosos no primeiro semestre de 2020. Houve aumento de 91% em relação ao mesmo período de 2019, quando 21.749 queixas foram notificadas.


Perfil das vítimas
A autora analisou duas bases de dados do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva) do Ministério da Saúde: o Viva Inquérito, que trata dos atendimentos de emergência nas capitais, e o Sistema de Notificação de Agravos (Sinan), referente às notificações dos serviços de saúde.

Os dados do Viva Inquérito mostraram que a maioria das vítimas é formada por pessoas de 60 a 69 anos de idade, de baixa escolaridade, não brancas, residentes na região Norte do país e que sofreram, sobretudo, violência física.

“A maioria dos casos de violência contra pessoas do sexo feminino está relacionada à força, ao espancamento e a lesões. Já os homens sofreram lesão por corte, em via pública, de agressor desconhecido do sexo masculino, com suspeita de elevado consumo de álcool”, relatou Fabiana Martins.

No Sinan, foram notificados 17.311 casos ou suspeitas de violência contra idosos. Desse total, 76,9% ocorreram na residência das vítimas. Em relação aos agressores, 62% deles são homens. 

A autora do estudo acredita que o número de mulheres idosas vítimas de violência pode ser ainda mais elevado. “Certamente há subnotificação, que pode ser atribuída ao fato de que elas encontram mais dificuldades para procurar ajuda, já que, geralmente, são dependentes do próprio agressor”, sustenta.

Fabiana Martins considera imprescindível a adoção de ações para o enfrentamento da violência contra os idosos no Brasil. “São necessárias políticas efetivas, que visem à melhoria das condições de vida e a mudanças estruturais capazes de reduzir as desigualdades e acabar com toda natureza de discriminação”, conclui a autora.

DissertaçãoPadrões de violência contra idosos: análise pelo Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes
Autora: Fabiana Martins Dias de Andrade
Orientadora: Deborah Carvalho Malta
Coorientadora: Ísis Eloah Machado (Ufop)
Defesa: 29 de setembro de 2020, no Programa de Pós-graduação em Enfermagem

Com Assessoria de Comunicação da Escola de Enfermagem