Pesquisador comenta repercussões de programa de trainee exclusivo para pessoas negras
Em entrevista ao programa Conexões, Pablo Moreno Fernandes Viana, professor da Comunicação, avaliou iniciativas de equiparação como as anunciadas neste mês por Magazine Luiza e Bayer
A empresa Magazine Luiza anunciou, neste mês, que vai aceitar apenas pessoas negras nas inscrições para seu programa de trainees em 2021. A empresa justificou a decisão afirmando que “o objetivo é trazer mais diversidade racial para os cargos de liderança da companhia, recrutando universitários e recém-formados de todo o Brasil, no início da vida profissional." Segundo a Magazine Luiza, seu quadro de funcionários tem atualmente 53% de pretos e pardos, mas apenas 16% ocupam cargos de liderança.
Um levantamento da consultoria Talenses/Insper feito com 532 empresas brasileiras mostrou que 95% têm profissionais brancos como presidentes. Nos conselhos de administração, 2% dos homens são negros e menos de 1% das mulheres são negras. Além da Magazine Luiza, a farmacêutica Bayer também abriu inscrições para um programa de trainee exclusivo para pessoas negras.
Nas últimas semanas, o assunto tem causado polêmica. Pessoas e grupos que atuam no movimento negro manifestaram apoio ao anúncio da Magazine Luiza, mas também surgiram críticas. O deputado federal e vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara, Carlos Jordy (PSL-RJ), entrou com uma representação no Ministério Público por considerar que a empresa estaria cometendo “crime de racismo”.
No programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, o professor Pablo Moreno Fernandes, do Departamento de Comunicação Social da UFMG, membro do Grupo de Estudo em Comunicação, Raça e Gênero (Coragem), comentou o programa da Magazine Luiza e as repercussões que ele tem suscitado. A entrevista foi ao ar nesta quinta-feira, 24.
"Não tenho dúvida do benefício dessas ações no combate ao racismo, que é uma estrutura forte e consolidada na cultura brasileira. Por ser uma estrutura, ela só é transformada por meio de ações concretas. Nesse sentido, ações como as de Magazine Luiza, Bayer e outras empresas que vêm lançando programas dessa natureza fazem muita diferença na inserção de pessoas negras no mercado", avaliou.