Coberturas especiais

Professores da Fafich relatam experiência do plantão psicológico

Colóquio 'Psicologia e saúde mental' abriu atividades da Semana de Saúde Mental no campus Pampulha

Miguel Mahfoud, do Departamento de Psicologia: atendimento psicológico precisa se adequar temporalmente às necessidades do paciente
Miguel Mahfoud: atendimento psicológico precisa se adequar temporalmente às necessidades do paciente Foto: Júlia Duarte / UFMG

As atividades da 6ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG tiveram início na manhã desta segunda-feira, 14, no campus Pampulha, com a realização da primeira mesa do colóquio Psicologia e Saúde Mental, denominada Sofrimento mental e urgência subjetiva na comunidade universitária: O que a psicologia tem a dizer.

Mediada por Guilherme Massara Rocha, professor do Departamento de Psicologia, a mesa reuniu Márcia Rosa Luchina e Miguel Mahfoud, do mesmo departamento. Os professores atuam no plantão psicológico vinculado ao Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da Fafich.

Márcia Rosa Luchina, Guilherme Massara Rocha e Miguel Mahfoud
Márcia Rosa Luchina, Guilherme Massara Rocha e Miguel Mahfoud Foto: Júlia Duarte / UFMG

Márcia Luchina fez um relato do trabalho realizado pelo SPA e de casos tratados pelo serviço durante o último semestre – preservando, naturalmente, a identidade dos pacientes. A psicóloga destacou a importância da prática clínica, em seu empirismo, na compreensão das conjunturas que motivam o sofrimento mental no âmbito universitário e das possíveis soluções.

“A psicanálise trata do sintoma naquilo que ele tem de insuportável, antes que ele se apresente na forma de um ato, antes que haja a passagem a um ato, como as tentativas de suicídio”, exemplificou Márcia, destacando a possibilidade de os atendimentos ocorrerem tanto em poucas sessões, talvez mesmo uma, ou em várias – e em ambientes não necessariamente canônicos de atendimento, opcionais ao consultório clássico.

Dando sequência às reflexões sobre a experiência do plantão do SPA, Miguel Mahfoud lembrou que a proposta da iniciativa é oferecer uma estrutura psicológica que se apresente mais pronta para atender às necessidades das pessoas ainda no instante em que elas procuram atendimento pela primeira vez. “Na psicanálise, tendemos a usar a primeira entrevista como um momento em suspenso, experimentar o que faremos depois. Isso está na contramão das necessidades dos sujeitos. O momento em que a pessoa procura ajuda é altamente mobilizador da elaboração da experiência”, alerta.

Processo revirado
“Trata-se de um instante importantíssimo da vida da pessoa: ela finalmente decide fazer alguma coisa com o seu mal-estar, cuidar-se, procurar ajuda, conversar com alguém. No entanto, a pessoa encontra o psicólogo justamente na contramão disso tudo, adiando o processo. Em suma, trata-se de uma experiência de desencontro”, diz. “O plantão psicológico nasce justamente para revirar esse processo. O objetivo é nos colocar mais prontos para acompanhar, de imediato, o movimento que já está acontecendo na pessoa que resolve pedir ajuda.”

Realizado pelo Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), o colóquio Psicologia e Saúde Mental está promovendo uma segunda mesa na tarde de hoje, no auditório da Reitoria, com o tema A clínica na Universidade.

Tarcísio Mauro Vago, Antônio Teixeira, Claudia Mayorga e Orestes Diniz Neto
Tarcísio Mauro Vago, Antônio Teixeira, Claudia Mayorga e Orestes Diniz Neto Foto: Júlia Duarte / UFMG

Mudanças permanentes
Os professores Claudia Mayorga, pró-reitora de Extensão, Tarcísio Mauro Vago, pró-reitor de Assuntos Estudantis e Orestes Diniz Neto, diretor da Fafich, mediados por Antônio Teixeira, professor do Departamento de Psicologia, fizeram uma abertura dos trabalhos do dia.

Mayorga repassou os esforços que a UFMG realizou nos últimos anos no combate ao sofrimento mental e explicou os fundamentos temáticos da 6ª Semana, que se relacionam com a realidade sociopolítica brasileira e mundial. “Propusemos uma semana de debates articulada com uma reflexão relativa ao momento que nosso país vivencia”, disse.

“Há vários relatos de desesperança e de desânimo em um contexto em que direitos e conquistas estão em xeque, com retrocessos já iniciados”, lembrou a pró-reitora. “Queremos passar uma mensagem de esperança ao longo desta semana, para que possamos, juntos e juntas, construir um caminho de acolhimento, de integração, de solidariedade, de inclusão, sempre atentos à diversidade da nossa universidade.”

Tarcísio Mauro Vago disse que a Universidade tem incentivado a criação de núcleos de escuta em todas as unidades, chamou a atenção para a responsabilidade dos professores sobre a juventude em formação e destacou a particularidade do conversatório Ser estudante na UFMG, que será realizado exclusivamente por estudantes na quarta-feira, às 10h, no auditório T005 da Escola de Engenharia.

“Criamos esse conversatório para ouvir o que os estudantes têm a dizer. Será fundamental que os colegiados, as direções e os departamentos estejam presentes nesse encontro. É hora de ouvir – com coragem – os estudantes e as estudantes da UFMG, que são a causa da existência da Universidade”, disse.

Orestes Diniz Neto: sofrimento mental no âmbito universitário não é exclusividade da UFMG, mas realidade mundial
Orestes Diniz Neto: realidade mundial Foto: Júlia Duarte / UFMG

Insalubridade
Último a se pronunciar, Orestes Diniz Neto lembrou, por meio de dados qualitativos e quantitativos, que o sofrimento mental no âmbito acadêmico não é exclusividade da UFMG, mas uma realidade mundial, que se relaciona particularmente com a ruptura do tecido sócio-político-econômico no Brasil e em outras partes do mundo.

“Os dados que nos chegam mostram que é assombroso o grau de insalubridade, podemos dizer assim, produzido pelas universidades”, disse o professor, retomando estudo realizado com alunos de pós-graduação de mais de 20 países e publicado, neste ano, na revista Nature. “De acordo com esse estudo, 41% dos estudantes de pós-graduação demonstravam ter transtorno de ansiedade e 39%, depressão. Quando perguntados sobre os fatores envolvidos nesses problemas, eles contaram que os motivos eram, entre outros, a estrutura das universidades e o pouco ou nenhum – às vezes, até o abusivo – relacionamento que mantinham com os seus orientadores”, detalhou.

Orestes Diniz destacou que o índice médio do sofrimento mental, no âmbito da graduação, é maior nas universidades que no resto da sociedade e lembrou os fatores sociais envolvidos nesse processo, como origem, etnia e renda. "Muito foi feito, mas muito mais há de se fazer. Esse fazer deve ser permanente; não se trata de um esforço espasmódico. Precisamos mudar o nosso modo de ser e de viver, senão continuaremos muito doentes.”

A programação da 6ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG segue durante os próximos dias em Belo Horizonte e Montes claros e pode ser conferida no site do evento.

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Público acompanhou a atividade no auditório da Reitoria
Foto: Júlia Duarte / UFMG