Por falta de oportunidades, quase metade dos jovens brasileiros considera tentar carreiras militares
43,9% responderam que seguiriam carreiras militares. Número é maior entre jovens de baixa renda e menor escolaridade
Um levantamento realizado pela Universidade de Oxford em parceria com as universidades federais de Minas Gerais, São Carlos, Pernambuco e o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, aponta que quase metade dos jovens brasileiros considera tentar carreiras militares por falta de oportunidades. Foram 2055 questionários aplicados entre participantes de 16 a 26 anos, de todas as regiões brasileiras, e 43,9% apontaram propensão à busca por carreiras militares, principalmente pela possibilidade de estabilidade e crescimento profissional. Esse número é maior entre jovens em situação de vulnerabilidade econômica.
O programa Expresso 104,5 conversou com sobre os resultados da pesquisa com a professora Valéria Cristina de Oliveira, da Faculdade de Educação da UFMG, uma das autoras do estudo.
A professora explicou que o estudo, inédito no Brasil, foi baseado em pesquisas internacionais que coletam esse tipo de dado, sobretudo nos Estados Unidos, onde esse tipo de pesquisa é mais frequente. O índice por lá é, atualmente, de 14% dos jovens com interesse na carreira militar, bem abaixo do percentual encontrado aqui no Brasil. Segundo a pesquisadora, esses dados oscilam nos EUA de acordo com períodos de crises econômicas e conflitos externos. O aspecto econômico parece se repetir no caso brasileiro.
"Pra gente, essa hipótese econômica era importante, então uma das perguntas do instrumento (questionário) era justamente sobre o motivo de para ingressar na carreira militar. E o que nós observamos é que aquelas variáveis associadas à estabilidade, alimentação, remuneração foram as que mais se destacaram. Além disso, numa análise preliminar, também observamos uma associação entre um maior interesse por essas carreiras e uma menor escolaridade dos pais, que foi a variável utilizada para identificar a origem socioeconômica desses jovens. Então temos mais elementos pra dizer que existe uma correlação entre os aspectos socioeconômicos e o interesse por essas carreiras."
O estudo foi publicado em formato pre-print e o banco de dados obtido com a pesquisa será disponibilizado para que outros pesquisadores possam utilizá-lo.
Ouça a conversa com o apresentador Filipe Sartoreto: