Iniciativa de professor da Fale leva literatura brasileira a Cabo Verde
Navio com obras contemporâneas reunidas por Leandro Garcia parte do Rio de Janeiro para a África no dia 20; doações ainda são aceitas
Desde novembro de 2017, o professor Leandro Garcia Rodrigues, da Faculdade de Letras da UFMG, está reunindo livros para enviar para Cabo Verde, na África, onde serão criados dois núcleos (lá chamados de “leitorados”) de literatura brasileira contemporânea — um na Biblioteca Nacional do país, que fica no centro da capital Praia, na ilha de Santiago, e outro no Centro Cultural do Brasil, mantido pela embaixada brasileira no bairro de Palmarejo.
Autores, editores e livreiros interessados em colaborar com a iniciativa podem entrar em contato com o professor por meio de seu perfil no Facebook ou enviar livros diretamente para seu endereço no Rio de Janeiro. “Como o navio que levará as obras parte no dia 20, é importante que as pessoas optem por uma modalidade de envio que garanta que os exemplares cheguem a mim, em meu endereço de Petrópolis, no máximo até o dia 19”, alerta o professor.
A campanha está sendo realizada em cooperação com a Marinha do Brasil e com a embaixada brasileira em Cabo Verde. O navio que levará os volumes tem Portugal como destino, mas fará uma parada no país africano especialmente para entregar a encomenda aos representantes da embaixada brasileira.
Garcia conta que, até o momento, já recebeu mais de 500 exemplares, entre eles volumes de alguns autores recentemente premiados nos principais certames literários nacionais. “Meu principal interesse é disponibilizar essa boa literatura brasileira para os alunos de Letras da Universidade de Cabo Verde”, diz o professor. Entre os autores que terão obras levadas a Cabo Verde estão Adélia Prado, Jacques Fux, Leonardo Villa-Forte, Carol Bensimon e Beatriz Schwab.
O professor sugere que os doadores enviem no mínimo dois exemplares de cada obra, já que serão criados dois núcleos de estudos e pesquisas em instituições distintas. O endereço para envio é Rua Marechal Deodoro, 119, apartamento 1.102, Centro, Petrópolis, Rio de Janeiro, CEP 25.620-150.
Só autoajuda
A ideia de enviar para Cabo Verde uma mostra da literatura brasileira contemporânea surgiu após visita que Leandro Garcia fez ao país africano, no início de novembro do ano passado, para ministrar cursos na Faculdade de Letras da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), na ilha de Santiago, e palestras em instituição localizada na ilha de São Vicente.
A visita ocorreu a convite da embaixada do Brasil no país e da Divisão de Operações de Difusão Cultural (DODC) do Itamaraty — a mesma para a qual trabalharam, entre outros, Guimarães Rosa, Vinicius de Moraes e Murilo Mendes. Na ocasião, o professor da UFMG falou sobre a vida e a obra do Padre Antônio Vieira, que teve passagem por Cabo Verde, em 1652, e escreveu um conjunto importante de cartas, área de pesquisa de Garcia.
Por ocasião dessa visita, o professor constatou que praticamente não há obras de literatura brasileira contemporânea nas bibliotecas do país africano, só os clássicos. “Nossas obras não chegam. A principal razão é a falta de dinheiro para importar livros. Do Brasil atual, o que eles leem é apenas autoajuda. Boa literatura não chega”, lamenta. “Descobri que há apenas duas livrarias em Santiago, uma privada e uma pública, da Universidade de Cabo Verde. Em nenhuma das duas, no dia em que as visitei, havia sequer um livro de literatura brasileira contemporânea”, relata o professor.
O principal interesse da convocatória é por obras de ficção, como romances e coletâneas de contos, além de poesia. No entanto, também serão enviados livros de estudos literários, desde que tragam produções contemporâneas.
Leandro Garcia já pensa em estender a campanha a outros países de língua portuguesa do continente africano. “Em São Tomé e Príncipe, em Guiné-Bissau e na Guiné Equatorial, por exemplo, a situação é ainda mais complicada: parece que nesses países não chega nem a nossa literatura clássica; o contato com a produção de nosso país é zero. Por isso, pretendo desenvolver uma iniciativa semelhante nesses lugares”, afirma o professor.