Programa Conexões aborda vulnerabilidades do patrimônio histórico no Brasil
Destruição de imóveis tombados em Minas Gerais, devido às fortes chuvas, chama atenção para impacto das mudanças climáticas no patrimônio histórico do país
Na última quinta-feira, 13, um deslizamento de terra na cidade de Ouro Preto levou à completa destruição de um casarão histórico. O imóvel pertencia à prefeitura da cidade e foi tombado na década de 80, como parte do Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Ouro Preto. O acidente foi ocasionado pelas fortes chuvas que caíram em grande parte de Minas Gerais nas últimas semanas e deixaram quase 400 municípios em situação de emergência e mais de 20 mil pessoas desalojadas. Esse é o segundo casarão histórico destruído na cidade de Ouro Preto desde o início do ano. No dia 7 de janeiro, outro imóvel tombado desabou em condições similares. Em ambos os casos, felizmente, não houve mortos ou feridos.
Como resposta, o governador Romeu Zema anunciou mais de 118 milhões de reais para a restauração do patrimônio histórico do estado. Mas esse não é um problema apenas de Minas Gerais. Nos últimos anos, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pela preservação do patrimônio histórico em nível nacional, tem sofrido com cortes de verbas e ataques de autoridades políticas. Entre elas, o presidente Jair Bolsonaro, que já fez críticas a uma suposta "burocracia excessiva" do órgão. Para entender mais sobre as vulnerabilidades do patrimônio histórico brasileiro, o programa Conexões desta quarta-feira, 19, recebeu o professor da Escola de Arquitetura da UFMG Flávio Carsalade, ex-presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG).
O docente apresentou um panorama sobre a relevância do patrimônio histórico e cultural no Brasil para a população e gestão do país ao longo do tempo e ofereceu uma conceituação do que é considerado patrimônio histórico. “Muito desse crescimento da importância do patrimônio para a sociedade veio da população em geral. A própria população chegou num momento em que ela se assustou com a imensa derrubada dos nossos bens patrimoniais e começou a se organizar para que os governos fizessem alguma coisa a respeito”, explicou o professor. Levando em conta esse carinho da população, que gera a pressão para proteção do patrimônio, o entrevistado afirmou que existe um conjunto de ações, entendidas como educação patrimonial, que tem funcionado bem no país.
Sobre o impacto das chuvas e enchentes, Carsalade defendeu que isso chama atenção para a forma como as mudanças climáticas também podem afetar o patrimônio, questão que deve ser estudada e verificada. Outra relação a ser observada com os acidentes que vêm acontecendo, para o professor, é a importância de ter recursos disponíveis para o patrimônio, diante da grande necessidade de investimento em restaurações e recomposições e, para além disso, em infraestrutura.
Ouça a entrevista completa no Soundcloud.
Produção: Carlos Ortega, sob orientação de Luiza Glória
Publicação: Enaile Almeida, sob orientação de Hugo Rafael