Projeto Renascer e Hospital Sofia Feldman inauguram ambulatório de apoio ao luto perinatal
Iniciativa da Escola de Enfermagem ajuda mães e familiares a superarem a dor da perda de bebês durante a gestação ou nos primeiros dias após o parto
Acaba de ser inaugurado, no Hospital Sofia Feldman (unidade Carlos Prates), o Ambulatório de Apoio ao Luto Perinatal, criado em parceria com o Projeto Renascer: cuidado multidisciplinar do luto perinatal, da Escola de Enfermagem da UFMG. O atendimento é destinado às famílias em situação de luto perinatal assistidas pelo Hospital Sofia Feldman.
De acordo com coordenadora do projeto Renascer, professora Juliana de Oliveira Marcatto, do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da UFMG, o objetivo é ofertar cuidados direcionados ao acolhimento do luto de mulheres e famílias que vivenciam a experiência da perda de seus bebês, independentemente da idade gestacional. Além da organização do cuidado pautado em boas práticas evidenciadas pela literatura durante o pré-natal e no momento do nascimento, a implementação do ambulatório tem o objetivo de dar suporte ao cuidado das famílias após a alta hospitalar por meio de escuta qualificada e atendimento especializado.
Juliana Marcatto enfatiza que o ambulatório busca validar e reconhecer a experiência da dor da perda. "Por meio da escuta qualificada, esperamos criar um espaço seguro para acolhida das manifestações de forma processual e individual, considerando os valores e necessidades de cada mulher e família”, diz. Segundo a professora, existem poucos espaços especializados na promoção desse tipo de cuidado no âmbito do Sistema Único de Saúde. “A experiência de estruturação deste ambulatório pode ser modelo para outras unidades no Brasil e fortalecer a proposta de implementação de uma diretriz nacional de acolhimento à perda gestacional e neonatal”, projeta a professora.
‘Colo vazio’
No ambulatório, o primeiro atendimento será destinado ao acolhimento, escuta qualificada, preenchimento de dados sociodemográficos, identificação da necessidade de cuidados especializados, aplicação das escalas de luto perinatal e de qualidade de vida com 2, 6 12 e 18 meses após a perda. De acordo com a demanda das famílias ou avaliação profissional, será dada continuidade ao atendimento com periodicidade mensal, nos primeiros seis meses, e trimestral, até 12 meses. Além disso, serão ofertadas outras atividades de seguimento e monitoramento, como ligação de condolências, rodas de conversas e clube do livro, em parceria com o projeto de extensão da Escola de Enfermagem.
A professora destaca, ainda, que o luto perinatal é uma temática sensível, que difere do luto em outros contextos. “As famílias de bebês de vida breve têm poucas oportunidades de criar memórias afetivas que possam ser acionadas durante o processamento do luto. A inversão da ordem natural do ciclo de vida e o chamado 'colo vazio' não são experiências validadas socialmente. Elas geram um estado de silenciamento da dor que, na maior parte das situações, compromete mulheres e famílias em suas dimensões biológica, social, emocional e espiritual”, afirma Juliana Marcatto.