Extensão

Rede de pesquisadores indígenas promove seminário em território maxakali

Evento, que começa nesta quarta-feira, reunirá estudos iniciais sobre as práticas desse povo

Alçdeia maxakali em Minas Gerais:
Aldeia maxakali em Minas Gerais: indígenas pesquisando e divulgando suas reflexõesEspaço do Conhecimento / UFMG

De objeto de estudo, os indígenas maxacalis estão se transformando em sujeitos de pesquisa. Eles já desenvolvem estudos sobre o próprio território, investigam práticas culturais de sua comunidade e aspectos de sua terra, como plantas medicinais, árvores, desenho, nascentes, histórias da floresta e seus bichos, água, caça, reflorestamento, queimada, língua e até futebol. Os resultados iniciais de suas reflexões serão apresentados na primeira edição do Seminário de Pesquisa Hãm Yĩkopit, que ocorrerá de quarta a sexta-feira (12 a 14 de fevereiro), no Território Indígena Maxakali de Água Boa, no município de Santa Helena de Minas, no Vale do Mucuri, em Minas Gerais.

O evento é organizado por meio do projeto de pesquisa e extensão A atividade matemática escolar indígena: investigando relações entre diferentes lógicas de conhecimento, na perspectiva do bilinguismo, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), sob a coordenação da professora Vanessa Sena Tomaz, da Faculdade de Educação (FaE), além do aporte da pesquisa de doutorado Os modos comunicacionais Maxakali na escola: uma investigação sobre aspectos quantitativos, relacionais e espaciais, do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE).

“A rede é uma iniciativa inédita e de extremo alcance social, considerando a situação de vulnerabilidade desse povo e a inovação de não sermos nós, ‘brancos’, pesquisando os ‘índios’, mas os indígenas pesquisando suas próprias práticas e criando formas de divulgar suas pesquisas”, avalia Vanessa Tomaz.

A expressão Hãm Yĩkopit significa Perguntar para a terra. O seminário será ministrado em duas línguas (maxakali e português), com o apoio institucional e financeiro da Pró-reitoria de Extensão (Proex) da UFMG, por meio do edital do Programa de Apoio Institucional a Eventos (Paie).

Evolução
O seminário será realizado das 8h às 17h, durante os três dias. Haverá canto de abertura, conversa sobre a pesquisa e a rede Hãm Yĩkopit no Território Indígena Maxakali, apresentação dos estudos em andamento, oficina de metodologias de pesquisa e prática pedagógica, plenária de encerramento com propostas para a continuidade dos trabalhos e entrega de certificados.

Segundo a professora Vanessa Tomaz, o embrião da rede de pesquisadores surgiu em 2016 como projeto de extensão. Na época, um grupo se uniu para propiciar que professores indígenas maxakalis obtivessem um certificado de ensino médio junto à Secretaria de Estado de Educação para conseguirem ingressar no ensino superior. Dois anos depois, o egresso Lúcio Flávio Coelho Maxakali, da Fiei (habilitação Matemática), desenvolveu o trabalho de conclusão de curso com o tema Tayũmak Tikmũ’ũn yĩy ax (O uso do dinheiro na cultura maxakali).

Em seguida, uma aluna de doutorado da FaE, que já trabalhava com os maxakalis, iniciou sua pesquisa de doutorado no Território de Água Boa. Ao compartilhar com a comunidade os objetivos da investigação, os próprios integrantes manifestaram o interesse em também desenvolver pesquisas.

Assim, em agosto de 2019, no Território de Água Boa, surgiu a Rede de Pesquisa Hãm Yĩkopit, formada por pesquisadores indígenas Maxakali e não indígenas que desenvolvem pesquisas sobre as práticas culturais, sociais, ambientais e escolares de suas comunidades. A rede está registrada no diretório de grupos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e na Pró-reitoria de Pesquisa da UFMG. São 26 pesquisadores cadastrados, sendo três estudantes da formação intercultural, um egresso da UFMG, e os demais são professores Maxakali, pajés e outras pessoas da comunidade interessadas em fazer pesquisas. Também compõem a rede seis professores universitários: quatro da UFMG, nas áreas de Linguística, Literatura e Educação Matemática, uma da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), da área de Educação Matemática, e uma docente do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste), também da área de Educação Matemática, além de duas alunas de doutorado em Educação da UFMG e uma mestra com formação na Faculdade de Educação.

Metodologias alternativas
O pesquisador Lúcio Flávio Maxakali desenvolveu procedimentos metodológicos alternativos aos modos de fazer pesquisa acadêmica. Como produto final, ele apresentou uma linha do tempo, um material multimodal que articula vídeos, fotos, desenhos, cantos e textos, na língua maxakali e em português, em que diferentes modos comunicacionais coexistem de forma harmônica e complementar. O material está disponível para download na biblioteca virtual da FaE.

Outros projetos, em fase de implantação ou em desenvolvimento na comunidade indígena, também estão vinculados à rede de pesquisadores. Eles abordam, entre outros temas, a atividade matemática escolar indígena, os modos comunicacionais na escola, o acompanhamento das práticas escolares e a formação de professores.

Com Assessoria de Imprensa da UFMG